Ensaiões de La Gomera III & IV
Os ensaiões de haste não ramificada podem escolher entre dois modelos vincadamente contrastantes. No primeiro — exemplificado pelo Aeonium appendiculatum, que mostrámos no fascículo anterior desta série — as plantas têm um «tronco» bem definido, acastanhado, despido de folhagem, encimado por um saiote de folhas onde se aninha ampla inflorescência mais ou menos semiesférica. No segundo modelo, a roseta de folhas está colada ao solo e dela emerge uma haste floral verde e folharuda de alto a baixo, com as folhas reduzindo-se a pouco mais que escamas à medida que sobem. Nesse caso as flores podem concentrar-se no topo da haste (como sucede no Aeonium aizoon e no Aeonium aureum) ou formar uma inflorescência alongada, aproximadamente cónica. É essa última a opção do Aeonium canariense, representado em La Gomera pela subespécie latifolium, que é o primeiro dos ensaiões hoje aqui ilustrados.



O segundo ensaião de hoje, Aeonium castello-paivae ou bejequillo gomero, também um endemismo gomerense, vive entre os 200 e 1100 m de altitude em sítios escarpados e em geral soalheiros. Hibrida frequentemente com o A. decorum (que apresentámos no fascículo anterior), e de facto não difere muito dele: fica-se pelos 50 cm de altura, é assaz ramificado, e as suas folhas agrupam-se em rosetas de 4 a 7 cm de diâmetro nas extremidades dos galhos. As hastes florais são algo erectas e alongadas, e as flores, em tons de verde ou de bege, com pétalas estreitas, estão reunidas em cachos terminais. Florece entre Maio e Junho — e, ao que consta, dá-se bem em jardins, ainda que seja pouco cultivado. A ouvidos portugueses o epíteto castello-paivae não pode deixar de chamar a atenção, e a suspeita é prontamente confirmada: trata-se de uma homenagem a António de Costa Paiva (1806-1879), académico e naturalista portuense que viveu muitos anos na Madeira, feito barão de Castelo de Paiva em 1854 por ordem de D. Pedro V.