Fumaria muralis
.... Agora já conheces
.... os fósforos que tens,
.... abriga-os da chuva de dezembro.
.... Quem sabe que cigarros
.... estarão à tua espera.
.. José Miguel Silva, O sino de areia (1999)
Os gestores da Lei nº. 37/2007, que aprova normas para resguardar os cidadãos da exposição involuntária ao fumo do tabaco e, ao mesmo tempo, adopta duras medidas que cortam rente as aspirações dos que apreciam expor-se voluntariamente ao prazer imerecido de um cigarro alheio, fizeram já circular a ordem de que todos os espaços públicos fechados têm de estar etiquetados com algum de dois dísticos obrigatórios: um, azul-celeste, com um cigarro aceso, ou outro, vermelho-óbvio, com um cigarro também aceso mas censurado. Quanto aos espaços abertos, não nos chegou ainda qualquer indicação sobre aqueles onde será proibido fumar, e que cartaz deverão ostentar, mas já não deve demorar. Para adiantar serviço, informamos que aqui, neste 1/3 de blogue, vamos continuar a comunicar civilizadamente por sinais de fumo, às vezes em nuvens espessas de entrelinhas. Não só o cigarro não será banido, como poderá surgir celebrado em poesia que, como se sabe, não faz mal apenas aos pulmões. A nossa sinalização privada exibe uma planta com ares de algum excesso tabagista, escolhida porque a arte dos rótulos exige clareza e mensagens reforçadas.
A partir de hoje as instituições zelosas obrigarão o fumo a retirar-se para o exterior. Por isso, construíram belos jardins com banquinhos confortáveis de madeira, recantos rochosos de meditação e pagodes de abrigo para que os seus colaboradores que fumam possam, como exige a lei, apreciar um cigarro em bom ambiente. Depois de algum treino a acender os cigarros com vento, eles terão tempo para, nessas saídas rápidas de mitigação do vício, estimar a companhia desta erva que desponta em cada nicho de terra livre. Assim seja, neste ano. Que nos seguintes possamos voltar «ao tempo em que era bonito sofrer e fumar».
11 comentários :
Desde que deixei de fumar que necessito dos fumadores para cravar um cigarrito de vez em quando, por isso acho muito bem. E já agora bom ano ao terços todos do blog[ue].
Bom ano também para esses lados, Eduardo. A propósito, gostei do Pseudopolaroid 2007, mas acho que a presença de gatos deveria ser reforçada (há tantos cães como gatos, coisa que o anúncio não revela). A despropósito: visitámos finalmente o sobreiro de S. Geraldo, e valeu de facto a pena ver um colosso desses de perto (das outras em que pensámos fazê-lo, gastámos sempre o dia inteiro nas dunas). Trouxe bolotas e já as semeei.
Curiosamente, ainda o outro dia passei pelas bandas do Norte da ria, mas desta vez fui passear pelas dunas e deixei o sobreiro em paz...
Quanto ao Pseudo,a tua acusação é muito injusta, Paulo:estão lá três gatos e apenas um cão. Os restantes são gado ovino e caprino que, embora podendo ser colocados na categoria "cão", não são bem a mesma coisa.
Se a comunicação é feita arravés de sinais de fumo, nestes canais não faz a menor diferença,a mensagem que chega até nós é sempre de uma pureza e limpidez magistral.
Bom Ano para todos e boas colheitas para o Paulo Araújo.
Manuela Moutinho
Grande distracção a minha. Deixei escapar o terceiro gato (ou, pior ainda, tê-lo-ei confundido com um cão), talvez por estar de costas e quase a fugir pelo canto da foto.
Manuela Moutinho:
Agradeço o comentário na parte que me toca (embora esta entrada tenha sido escrita pela Maria). Um óptimo ano também para si.
Felizmente existe este espaço. Acabei de acender uma fogueira.
Um bom ano para os 3/3 do blogue.
Ao administrador do blog,o meu bem haja pela publicação da foto desta erva do campo a fumaria muralis,com ela já curei algumas maleitas de pele,principalmente queimaduras ligeiras e ulceras varicosas.É uma erva com excepcionais poderes antisépticos e cicatrizantes.
Um bom ano paraos três e que nos contemplem com mais 366 post este ano
Obrigado, Filipe. Pois é, este ano vai ser mais comprido - e portanto mais árduo que o anterior por um factor de 366/365. Também por isso têm maior alcance os desejos de bom ano, que evidentemente retribuímos.
paraizal: Obrigada pelo seu precioso comentário. No livro "Plantas e usos tradicionais nas memórias de hoje", de M. Menezes de Sequeira et. al, lê-se: Para verrugas e eczemas mencionaram a fervura de 2 a 3 raminhos, que são pisados, misturados com farelo de trigo e aplicados sobre a pele.
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