25/01/2008

E mais não coube


Dicksonia antarctica

Para quem goste de fotografar árvores, uma visita à Mata do Buçaco pode ser uma grande frustração. Não faltam motivos para fotografar, pois são muitas as árvores que nos enchem o olho; mas é raro encontrar alguma que se preste a um bom enquadramento. Recuamos para que uma dessas gigantes nos caiba na foto - e logo uma cortina de outras árvores se interpõe no campo de visão e impossibilita o disparo. Mas é uma lição prática de humildade: a experiência visual de uma mata luxuriante não se deixa reduzir à bidimensionalidade estática de uma foto.

Deixando as árvores em paz na sua inacessível altivez, fica ainda muita coisa cá em baixo ao alcance da objectiva; por exemplo o vale dos fetos, que se estende por muitas centenas de metros ligando dois pequenos lagos e acompanhando o curso cantante de um riacho. Com a popularização dos dinossauros, toda a gente viu já imagens virtuais de parques jurássicos onde os fetos arbóreos compõem a vegetação dominante. Por isso não é surpresa que essas plantas sejam das mais primitivas à face da Terra. Contudo, a maioria dos fetos arbóreos actuais, como os dos géneros Dicksonia e Cyathea, são o resultado de uma evolução posterior e, ao contrário do que sucede com a Ginkgo biloba, não têm parentes próximos nos registos fósseis; é como se fossem réplicas modernas de uma tecnologia antiga.

Originário da Austrália e da Tasmânia, este feto arbóreo que se domiciliou no Buçaco prefere locais frescos e húmidos, e é um dos mais rústicos da sua categoria, sendo mesmo cultivado ao ar livre no sul de Inglaterra e na costa oeste da Irlanda.


Phillyrea latifolia

Uma outra oportunidade fotográfica no Buçaco é-nos dada pelos miradouros na parte alta da mata. Seguindo os passos do calvário, mas sem o madeiro ao ombro, subimos até à Cruz Alta, de onde a vista abrange todo o tapete verde que envolve o Palace Hotel e se desenrola até ao Luso: formado pelas copas cerradas das coníferas, é um verde a que o Inverno não tira espessura nem viço. Uma vez lá em cima, porém, não são só as coníferas a chamar-nos a atenção. Há umas pequenas árvores folhosas, também elas perenifólias, que pelo retorcido dos troncos denunciam uma idade provecta: são os maiores exemplares de adernos (Phillyrea latifolia) que alguma vez vimos no nosso país. E, por uma vez, puseram-se a jeito para a foto, debruçando-se sem medo sobre a encosta.

1 comentário :

Anónimo disse...

Uma lindissima zona. Belas fotos aqui apresentadas (p nao destoar)