19/12/2011

Amarela dos prados

Arnica montana L.
O lado simpático dos remédios caseiros é que o seu uso e confecção não dependem de médicos, farmácias e laboratórios. São uma afirmação de independência e uma forma de ligação directa à natureza. Essas são também as razões para o seu declínio: a independência é vista com desconfiança; e, numa sociedade urbanizada, o conhecimento da natureza e das ervas medicinais vai-se inevitavelmente esvaindo. Além disso, as supostas propriedades curativas de muitas dessas ervas têm sido frequentemente desmentidas por testes rigorosos.

Quem gosta das plantas por elas mesmas, sem ser movido por preocupações utilitárias, tem alguns motivos para temer a depredação que a farmacopeia popular (ou o que dela resta) pode causar em certas preciosidades botânicas. Um exemplo emblemático é a argençana-dos-pastores (Gentiana lutea), em vias de desaparecer da serra da Estrela, único local onde existe em Portugal, por causa da avidez com que os tais pastores a colhem. As raízes, de que se extrai um tónico amargo que estimula o trânsito digestivo, são a parte mais cobiçada da planta. Como ela pode demorar uma dezena de anos até florir pela primeira vez, a maioria dos indivíduos é colhida muito antes de poder contribuir para a propagação da espécie.

A Arnica montana é também uma herbácea perene com reputação medicinal, mas tem um ciclo de vida mais acelerado; e, embora escassa em Portugal, não corre tamanho risco de erradicação. Vive em lameiros e turfeiras, em zonas mais ou menos montanhosas do norte e centro do país. Tem folhas quase todas em roseta basal, lanceoladas e peludas, e hastes até 60 cm encimadas por 1 a 4 capítulos florais, cada um deles com 6 a 8 cm de diâmetro. A sua floração estende-se de Maio a Julho.

Diz a tradição popular que a arnica, ou a tintura que dela se prepara, é boa para tratar contusões; um dos nomes populares da planta é mesmo panaceia-das-quedas. Contudo, estudos recentes parecem comprovar que a sua eficácia é equiparável à de um placebo. E a aplicação interna, também tradicional, é de todo desaconselhada pela toxicidade da planta. Deixem-na pois estar no seu lameiro, que ela triturada de pouco serve e basta o seu alegre dourado para nos tonificar a alma.

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