Bem feitas
Asplenium onopteris L.
Partir as palavras aos pedacinhos para lhes adivinhar o sentido é a solução de recurso, ainda que falível, quando os dicionários se abstêm de nos ajudar. Dissecando o epíteto onopteris, vemos que ele é formado por duas palavras: ono, que em grego significa asno; e pteris, nome que os gregos davam aos fetos em geral. O Asplenium onopteris haveria pois de ser, por razões que só Lineu poderia elucidar, o feto-dos-burros. O vernáculo, porém, nem sempre está disposto a acatar lições de etimologia clássica, e em português a planta recebeu a designação algo incolor de feito — não do verbo fazer, mas da mesma raiz etimológica que feto. O Asplenium onopteris é assim o feto-feto, o exemplo mais típico da classe vegetal a que pertence, o protótipo de todos os fetos.
É pelo menos um feto muito frequente em lugares húmidos e umbrosos, em Portugal e em toda a região mediterrânica. Vive em rochas e paredes musgosas, mas não é incomum vê-lo brotar directamente do chão dos bosques. As suas frondes verde-escuras, de formato distintamente triangular, rematadas por uma espécie de cauda, têm até 50 cm de comprimento; dotadas de pecíolo comprido, glabro e quase negro, surgem agrupadas em tufos densos ou esparsos. É um feto que não tem descanso e se mantém verde e fértil o ano inteiro, num exemplo de produtividade nada meditterrânico muito do agrado das troikas deste mundo.
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