Deste mundo e do outro
Edward Lear (1812-1888) foi um desenhador e humorista inglês, precursor da literatura de nonsense e, com Lewis Carroll, o maior expoente do género. Passou os últimos anos da sua vida em Itália (San Remo) na companhia do seu gato, Old Floss, a quem dedicou desenhos e versos. Começou por praticar desenho botânico e zoológico, mas teve que abandonar essa carreira por insuficiência de visão. Alguma dessa formação transparece nos seus desenhos e rimas, como neste limerick, parte de um alfabeto humorístico-didáctico:
Y was a Yew,
Which flourished and grew,
By a quiet abode
Near the side of a road!
y!
Dark little yew!
O teixo (yew) é uma árvore deste mundo, e até autóctone no nosso país (dela advém o antropónimo Teixeira), mas a maior glória de Lear foi ter imaginado uma botânica que, ao contrário do plátano lunar, não é deste mundo, embora combine elementos facilmente reconhecíveis. E o latinório que acompanha esses absurdos desenhos é irresistível: Bottlephorkia spoonifolia, Manypeeplia upsidownia, Tigerlillia terribilis.
E isto, que é a brincar, faz pensar na presunção humana de tudo nomear. Hoje uma árvore contemporânea dos dinossauros chama-se, por exemplo, Ginkgo biloba. No ciclo de existência dessa espécie, que poderá ainda sobreviver à própria humanidade (como sobreviveu a Hiroshima), os breves anos em que terá tido um nome científico são uma insignificância.
1 comentário :
He must have loved his "old Floss" very much, otherwise how would you explain he kept it, having such a thing like a "Smalltoothcombia Domestica" !
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