Os teixos da Quinta dos Carvalhos do Monte
A quinta a que se refere o título, e que tinha esse nome já no século XVII, há muito que não existe, mas os teixos ainda lá estão. Os terrenos da quinta, que no final do séc. XVIII e primeira metade do XIX pertencia à família Ribeiro Braga (os mesmos Bragas que deram o nome à rua), foram sendo progressivamente ocupados por arruamentos (Rua do Mirante, Praça do Coronel Pacheco, Rua dos Bragas) e estabelecimentos de ensino (Liceu Carolina Michäelis, Colégio Almeida Garrett e Faculdade de Engenharia).
Na Praça Coronel Pacheco há dois portões gémeos, um de cada lado da embocadura da Rua do Mirante. O portão da esquerda dá acesso ao antigo Colégio Almeida Garrett, que fechou em 1975 e passou então a ser um anexo da FEUP; actualmente está lá a Academia Contemporânea do Espectáculo. O portão da direita abre para as traseiras da antiga FEUP (actual Faculdade de Direito), onde há um edifício semelhante ao do Colégio Almeida Garrett e que, construído na década de 1870, albergou já três escolas distintas: o Colégio Inglês do Sagrado Coração de Maria (de 1873 a 1910), o Liceu Carolina Michäelis (de 1914 a 1951, ano em que o Liceu foi transferido para a Ramada Alta) e o Departamento de Engenharia de Minas da FEUP (de 1962 até à mudança da FEUP para a Asprela, em 2000); actualmente o edifício está desocupado.
No jardim do edifício há uma araucária-de-Norfolk (Araucaria heterophylla), possivelmente centenária, que se avista a grande distância, erguendo-se acima de todas as construções vizinhas. Pensámos em fotografá-la quando coligimos material para o livro À sombra de árvores com história, mas a ocasião acabou por não se proporcionar, e em qualquer caso já tínhamos muitas fotos de araucárias no Porto. Acabámos por ir lá esta semana, e as outras árvores que lá encontrámos roubaram todo o protagonismo à araucária.
O que vimos foram dois teixos (Taxus baccata) que, pelas suas dimensões, se guindam ao pódio das maiores do país: um deles tem um tronco com 3,5 metros de perímetro, o que faz dele vice-campeão nacional, logo a seguir ao teixo de Bragança (que tem 4,6 m); o outro, mais alto mas mais esguio, atinge os 2,9 m de perímetro, o que lhe dá um honroso 4.º lugar.
Árvores com tais dimensões têm, no mínimo, de 350 a 400 anos (veja nestes dois endereços como estimar a idade destas árvores). Os teixos podem viver milhares de anos, e por isso estes dois são ainda relativamente jovens; mas, num país arboricida como o nosso, é um milagre que os tenham deixado viver tanto tempo: são mais velhos do que quase todos os edifícios e monumentos que hoje compõem a fisionomia urbana do Porto (incluindo, obviamente, a Torre dos Clérigos).
Das muitas gerações de estudantes, professores e funcionários que passaram pelo edifício, terá alguém atentado seriamente nessas árvores notabilíssimas? Se o fez, não parece ter-lhes dedicado qualquer escrito. Mesmo que a Universidade do Porto não saiba reconhecer o valor único destas árvores, esperemos que tenha a sensatez de as poupar da próxima vez que o velho edifício entrar em obras.
[Bibliografia: Nuno Daupiás (1957) e Horácio Marçal (1962), ambos na revista O Tripeiro]
1 comentário :
Extraordinária "descoberta"! Estou mortinha por ir lá ver! Giga
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