Jardim não é homenagem
Deu recentemente a imprensa notícia de uma disputa entre políticos por não haver em Aveiro, até há pouco tempo, uma rua com o nome de Zeca Afonso, natural dessa cidade. Alegou-se que era imperdoável ter tardado tanto a homenagem devida a tão genial músico. Nenhum dos vereadores envolvidos, talvez confundidos por uma toponímia instável, que nem sempre nomeia quem é ilustre, se lembrou então do jardim, com o nome do músico, que embeleza o centro da cidade e cuja existência é um tributo exemplar ao talento do autor das Cantigas do Maio. Por lá os passos acautelam-se para melhor ouvir os sons da natureza que Zeca Afonso captou nos seus cantares; e o passeio descansado é acompanhado por choupos, amieiros, liquidâmbares, salgueiros, ulmeiros, magnólias, azereiros, zelkovas e até duas jovens araucárias columnaris que nesta altura estão carregadas de pinhas. Se algum andarilho ali «acelera» é porque um cachorrinho curioso o puxa pela trela.
O jardim Zeca Afonso é novo, requer cuidados urgentes (vê-se bem que os investimentos públicos em Aveiro têm outras prioridades), mas lembra a glória do poeta Zeca Afonso com o orgulho que nenhuma tabuleta de rua mais ou menos sufocada de prédios, mas sempre com trânsito que baste, alguma vez conseguirá exibir. Ora, dirão os governantes, de que vale um jardim? Ah, se às auto-estradas fossem dados nomes de gente, como seriam magníficas as nossas homenagens!
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