10/12/2004

Redonda e lustrosa


Foto: pva 0412 - camélia na Quinta do Covelo

Enquanto ardem os últimos dourados do Outono e a nudez invernal se vai disseminando pelas árvores, as camélias, de copas cerradas e lustrosas, vão-se enfeitando com uma abundância espaventosa de flores dos mais variados tons e feitios. O Porto é a cidade das camélias: elas entranharam-se de tal forma nos nossos hábitos visuais que um jardim sem camélias - como quase é, para nossa tristeza, o actual Jardim da Cordoaria - nos parece sempre incompleto.

Esta jovem e elegante camélia, em nada diminuída pela simplicidade das suas flores, saúda-nos à entrada da Quinta do Covelo pela rua do Bolama. Uma segunda camélia adulta no passeio e numerosas outras num pequeno jardim quadrangular, cercado por um muro baixo, completam a amostra de camélias do local: é uma colecção modesta mas digna de se ver, atestando o legítimo carácter portuense da Quinta do Covelo.

A Quinta, situada na zona norte da cidade, confina a poente com a rua de Faria Guimarães, que nesse troço é uma via-rápida francamente desagradável para peões. A entrada na Quinta por essa rua, feita por uma escadaria íngreme e delapidada, espécie de Bom-Jesus de Braga em miniatura, dá acesso directo a um cerro coberto por vegetação autóctone de grande valor: carvalhos-alvarinhos, sobreiros, pinheiros-mansos e pinheiros-bravos. Desaconselhável aos corações frágeis, que devem optar pela entrada plana pela rua do Bolama, a escadaria pode ser encarada como a primeira etapa do circuito de manutenção que a Câmara fez espalhar pela mata.

Na zona baixa da Quinta, a nascente, situa-se a antiga casa senhorial e alonga-se um caminho calcetado e rectilíneo, com bancos e passeios arborizados. De um dos lados do caminho, e fazendo um suave declive, há um extenso relvado plantado com numerosas árvores jovens que compõem um bonito conjunto; do lado oposto, estufas e viveiros pertencentes à Câmara preenchem inteiramente os antigos campos agrícolas. Parece ter sido esta a única parte da Quinta que a Câmara cuidou de valorizar, pois em tudo o resto se nota algum abandono. É urgente completar o que tão bem se começou.

3 comentários :

Anónimo disse...

As camélias eram (ou ainda são) chamadas "japoneiras" na Lagoa (S. Miguel, Açores). As crianças divertiam-se a apanhá-las e a atirá-las em guerras fingidas por ruas onde, em meados dos anos 60, poucos carros passavam.

Paulo Araújo disse...

Obrigado pela visita e pelo comentário. O Porto não tem de modo nenhum a exclusividade das camélias, mas elas têm cá dois séculos de tradição e, tirando alguns jardins incaracterísticos, vêem-se em toda a cidade; e, embora as haja noutras cidades nortenhas (particularmente minhotas), a sua abundância no Porto é particularmente notória. Agora que elas estão em flor, só quem anda de olhos fechados (ou nunca sai à rua) é que pode ignorá-las. Se tiver fotos de camélias em S. Miguel, também gostava de as ver.

A planta do chá (Camellia sinensis) é do mesmo género que a camélia vulgar (Camellia japonica), mas de outra espécie. O nome do género homenageia um jesuíta europeu que esteve ligado à vinda desta planta asiática para a Europa. Para consultar tudo quanto já aqui escrevemos sobre camélias, vá ao nosso índice

http://index-dias-com-arvores.blogspot.com/2004/08/rvores-nome-vulgar.html

e siga os atalhos sobre a camélia.

ManuelaDLRamos disse...

Também cá na região do Porto as pessoas chamam japoneiras às Camellia japonica. Eu só agora lhes chamo camélias, termo que a maioria das pessoas usa apenas para designar as flores.