Dos jornais- "Uma dor de alma"
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«Que mal fazia a árvore plantada no quintal? Fiquei privado da memória de uma vida... Todos os dias, chegado ao meu quarto de banho, abria a janela que dá para os quintais das traseiras e lá estava a árvore, verde de Março a Outubro; esquálida e sem folhas no Inverno. Tinha uma particularidade aquela árvore ela anunciava-me, sem falhas, a chegada da Primavera! Podia estar a chover ou um frio de rachar mas ela lá estava carregada de florzinhas brancas a dar-me a boa nova. Depois, no curto espaço de uma semana, essas flores caíam e lá ficava ela, a árvore, de folhas verdes a emoldurar um tronco já velho mas fecundo como se vê...
Há dias, abri, de manhã, a janela e descobri, horrorizado, que a árvore tinha sido abatida. Feita em pedaços, jazia a um canto do quintal, como coisa inútil, sacrificada aos custos da modernidade. Eu digo "custos da modernidade" porque é assim que os falsos arautos do progresso costumam assinalar as malfeitorias que praticam contra a Natureza. Em breve, os operários entraram pelo quintal dentro e começaram a erguer os tijolos da nova construção. (...) » Continuar a ler o texto de Jorge Vilas (jornalista)
É gritante a semelhança deste "caso pessoal" relatado no JN, com a entrada anterior: trata-se de idêntica ocupação dos quintais "das traseiras", com a consequente destruição de espaços verdes e "a substituição de solo vivo por revestimentos impermeáveis". Necessário? "Estratégico"? Legal? Ilegal? Fica por vezes a dúvida no ar. Agora que é irreversível, destrutivo, diminui a qualidade de vida, atenta contra o património arbóreo da cidade, disso temos a certeza. É uma autêntica dor de alma.
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1 comentário :
Vivo num apartamento. Mas, quer nas traseiras, quer na frente do prédio, há antigas moradias, quintais, um prado. Uma araucária, dois sobreiros, alguns pinheiros, um choupo. Chamo-lhes meus: enchem-me os olhos, reconciliam-me com o tempo. Devia haver um direito de propriedade fundado no olhar.
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