Villar d'Allen
Foto: pva 0502 - camélia centenária na Quinta de Villar d'Allen, Porto
O historiador portuense Hélder Pacheco publicou ontem no Jornal de Notícias um interesse texto sobre esta preciosidade portuense, de que transcrevemos um extracto:
«No sítio chamado Campanhã de Baixo começou a construir-se, a partir de 1839, a Quinta de Villar d'Allen, quando o súbdito britânico John Allen, notável coleccionador de arte, negociante de vinho do Porto, membro da Feitoria Inglesa, co-fundador do Banco Comercial do Porto e da Associação Comercial, adquiriu um conjunto de propriedades, incluindo as antigas quintas da Arcaria e da Fonte Pedrinha.
Logo após, John Allen iniciaria a edificação de uma residência de Verão. Tendo moradia na Rua da Restauração, onde fundou o primeiro museu do Porto, a propriedade constituiria refúgio dos estios do burgo. Além do palacete, John Allen lançou-se no planeamento dos jardins, segundo novos princípios aplicados aquela arte na Europa. Mas seria seu filho Alfredo Allen (1.º visconde de Vilar d'Allen) a concretizar o projecto do fundador da quinta, ampliando-a, em 1869 e 1872, com a aquisição das quintas da Vessada e de Vila Verde. Nela construiu os jardins, com modernos componentes - lago, regatos, cascatas, caminhos no bosque, espaços de lazer, etc), introduzindo espécies arbóreas e plantas que marcaram a diferença em relação ao que predominava na cidade. A esta obra não será estranha a associação de Alfredo d'Allen a Emílio David, contratado para a construção dos jardins do Palácio de Cristal, de que Allen foi dos maiores entusiastas.»
(continuação do texto aqui)
Oxalá este texto ajude alguns a compreender que o património urbano não é só matéria inerte, os edifícios, mas é também feito desses organismos vivos que são as árvores e os jardins.
Sobre Villar d'Allen, leia-se ainda a magnífica reportagem dos nossos vizinhos galegos Amigos da Camélia, que de algum modo fundamenta a asserção de Hélder Pacheco de que os espanhóis conhecem melhor a quinta do que os portugueses. Mas é injusto ignorar, como faz o historiador, a obra Jardins Históricos do Porto de Teresa Andresen e Teresa Marques, em que a Quinta de Villar d'Allen ocupa o centro do palco. Mesmo no nosso livro À sombra de árvores com história, é dado todo o destaque ao contributo de Alfredo Allen para os jardins da nossa cidade e à magnificência das árvores de Villar d'Allen. Aliás, já aqui recapitulámos parte dessa matéria: Palmeiras em Vilar d'Allen; Quinta de Villar d'Allen em Abril.
5 comentários :
Hola,
Una vez más felicidades por el estupendo blog que mantenéis.
Moito obrigado por vuestros comentarios sobre el artículo que hemos hecho de la "Quinta Villar d 'Allen".
Esperemos que sea solo el principio de una serie sobre los maravillosos lugares y jardines que tenéis.
Tambien deciros que sentimos como vosotros la quema de vustros montes.
Un cordial saludo
Jose
http://www.camelias.net
Obrigado pelo comentário. Gostamos da ideia de os vizinhos visitarem os jardins uns dos outros, pois as plantas não têm nacionalidade. Há muito que temos vontade de ir a Pontevedra conhecer as camélias de Marques Loureiro. A propósito: já alguma vez visitaram a Quinta da Aveleda, em Penafiel? Há lá uma alameda de camélias com tamanho de árvores (10 ou mais metros) que se estende por várias centenas de metros (além de uma grande colecção de camélias mais jovens). Também a Quinta de Fiães, em V. N. Gaia, merece uma visita pelas suas camélias, as mais antigas em Portugal.
Saudações
Uma pequena informação, mas de certo modo importante. Foi o visconde d'Allem, que vendo o talento da tão pequenita Guilhermina Suggia, mandou vir de Paris um violoncelo 3/4 para Guilhermina começar a estudar. Esse violoncelo é hoje propriedade da família d'Allen e encontra-se no museu da família.
Agradecido por la información, conocia la Quinta de Aaelda y su excelente vino, la de V.N. de Gaia no, tomo nota para visitarla en la época de floracion de las camelias.
Moito obrigado
JN- 10 de Agosto de 2005
por Hélder Pacheco historiador
Vilar d'Allen
«No sítio chamado Campanha de Baixo começou a construir-se, a partir de 1839, a Quinta de Vilar d'Allen, quando o súbdito britânico John Allen, notável coleccionador de arte, negociante de vinho do Porto, membro da Feitoria Inglesa, co-fundador do Banco Comercial do Porto e da Associação Comercial, adquiriu um conjunto de propriedades, incluindo as antigas quintas da Arcaria e da Fonte Pedrinha.
Logo após, John Allen iniciaria a edificação de uma residência de Verão. Tendo moradia na Rua da Restauração, onde fundou o primeiro museu do Porto, a propriedade constituiria refúgio dos estios do burgo. Além do palacete, John Allen lançou-se no planeamento dos jardins, segundo novos princípios aplicados aquela arte na Europa. Mas seria seu filho Alfredo Allen (1.º visconde de Vilar d'Allen a concretizar o projecto do fundador da quinta, ampliando-a, em 1869 e 1872, com a aquisição das quintas da Vessada e de Vila Verde. Nela construiu os jardins, com modernos componentes - lago, regatos, cascatas, caminhos no bosque, espaços de laser, etc), introduzindo espécies arbóreas e plantas que marcaram a diferença em relação ao que predominava na cidade. A esta obra não será estranha a associação de Alfredo d'Allen a Emílio David, contratado para a construção dos jardins do Palácio de Cristal, de que Allen foi dos maiores entusiastas.
Cidadão empenhado no progresso da urbe, de cuja câmara seria vereador, entre 1866 e 1869, o legado de Alfredo Allen é notabilíssimo, quer como colecionador e criador de camélias que prestigiaram o burgo, quer pela magnificência da quinta, património romântico contra vetos e marés conservado, por milagre, neste paraíso da construção civil.
Vilar d'Allen é o produto do sonho de dois homens, mantido para usufruto do nosso olhar e deslumbramento de quantos ainda não se conformaram à ditadura do rebotalho e da mediocridade que tem convertido jardins, quintas, campos e paisagens em pesadelos de um país cimentado. Dada a sua história, não admira que as jóias da coroa sejam as camélias, das quais, referenciadas no International Camellia Register, livro santo dos coleccionadores, editado na Austrália pela The International Camellia Society, existem a "Pérola de Vilar d'Allen" (rosa forte, com centro rosa-claro brilhante), de 1895/98; a "Vilar d'Allen" (vermelho vivo com estames amarelos); a "visconde de Vilar d'Alen (rosa, com estrias); a viscondesa de Vilar d'Allen (rosa brilhante); a "Alberto d'Alen" (vermelha viva), de 1872/73; a "Alfredo Allen" (rajada de branco e rosa forte), de 1883; a "Perfeição de Vilar d'Allen" (rosa pálido com pétalas em espiral), de 1872. E a camélia "Aunt Rosalie" (rosa claro).
Tudo isto, além de um conjunto de espécimes que o solo a tradição e o saber cultivaram. Como toda a gente fala de défice das contas e eu tenho a opinião de que o mais grave que o dos cifrões é o défice da cultura, e, principalmente, da educação, salvo honrosas excepções, Vilar d'Allen é mais conhecido dos espanhóis e de muitos estrangeiros do que dos portugueses, que têm pouco tempo para tais ninharias.
E para verem as diferenças em matéria de défices, o Governo de Madrid concedeu subsídio à Sociedade Espanhola de Camélias, para reproduzir na Galiza (nossa terra irmã na história, no resto passamos à frente) espécies portuguesas cuja categoria é reconhecida. Para as verem, vieram ao Porto 60 membros daquela sociedade, já que nos solos da cidade medravam mais de 200 variedades de camélias.
Tendo chegado até nós como quinta de recreio e reserva botânica, graças à coragem dos proprietários que não se resignaram à civilização da sucata nem abdicaram de manter um monumento ao amor da Natureza e da cultura (e contra eles parece que todas as forças da burocracia e do imobilismo se conjugam), Vilar d'Allen sobrevive como cenro de produção e venda de planta de jardim. Não tem apoios, nem sequer de palavras. Nada. Sobrevive de produzir 300 espécies. E, depois de ter visto seu bosque incendiado e o acesso afectado por uma desastrada requalificação viária, assistindo impotente às obras da Estrada de Gondomar, que devassaram a quinta, aVilar dÁllen mantem o mistério, a elegância dos espaços sonhados por John e Alfredo Allen.»
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