Recomeço
Fotos: pva 0509 - frutos de Acer pseudoplatanus, Acer campestre,Tilia tomentosa e Carpinus
betulus (colhidos nos jardins do Palácio de Cristal, Porto)
O fim do Verão é inevitavelmente época de exibições: de bronzeados com etiqueta de praias exóticas, de rostos corados fruto de já saudosos repousos, de fotografias acaloradas por risinhos em ambiente de festa, de postais de lugares que parecem inacessíveis em outras épocas do ano, de comprovantes de viagem em formato de pequeninos presentes trazidos em malas com pouca folga. Entretanto, por cá, algumas árvores afadigaram-se em preparar a sua primeira exibição do Outono: veículos aéreos arrojados para levar longe as suas sementes recém-nascidas. Estes meios de transporte começam por ser de tom verde e textura encorpada, ainda incapazes de planar, e só levantam voo quando secos, leves e ágeis.
A viatura espacial para transporte de sementes mais frequente na cidade, pela grande percentagem de áceres em lugares públicos, é a sâmara. Com duas asas quase transparentes, que formam um ângulo variável (180º no Acer campestre, próximo de 0º no Acer pseudoplatanus) e suportam duas sementes ao centro, esta estrutura oscila como uma borboleta e espalha-se facilmente. Não tardará que muitos rebentos de ácer arrebitem cabeça em jardins e beiradas.
As tílias adoptaram também um transportador inusitado: uma pala em cuja face anterior se segura um pézinho de sementes de pedúnculo longo como o das cerejas. Lembra um avião de longo curso que acaba de deixar a pista do aeroporto. O equilíbrio de pesos, com a frente da pala levantada para manter o conjunto de pé, é espectáculo a não perder.
Mas foi a opção das carpas (Carpinus betulus) que mais nos surpreendeu: uma asa-delta que leva uma semente aninhada no dorso e rodopia freneticamente até atingir o solo, aproveitando o movimento para se afastar da árvore-mãe. Houvesse um prémio para a criatividade, eficiência e elegância, e estaria atribuído.
6 comentários :
Interrogo-me sobre a validade de um comentário que não acrescenta nada ao texto a comentar. Acho-o inútil. Por isso, esses comentários que se traduzem na minha forma de sentir e receber os vossos textos e as vossas imagens, ficam para mim. Mas...às vezes acho que é um procedimento injusto para quem, me dá tanto conhecimento e poesia. E fico-me... interrogando-me sobre o valor (a importância) do comentário! Porém, hoje, o comentário fica no sítio lhe é destinado: um sentimento de gratidão e enorme estima pelo vosso trabalho.
vinha deixar um comentário inútil acerca das belas asas mas depois de ler o comentário da teresa senti-me (enquanto autora - risos) na urgência de lhe dizer que os comentários "inúteis" são absolutamente imprescindíveis ao bom funcionamento do sistema de comentários e da blogosfera em geral.
Comentem sim: é muito animador saber que alguém lê atentamente o que se escreve.
Faço minhas as palavras de Teresa. Mas sou blogueira e sei que os comentários sempre estimulam. Seja um "Alô", um "Oi. Estou aqui", é sempre um prazer. Passo por esse blog quase dia sim, dia não. Distribui o endereço para amigos, tb amantes das árvores. Dividi com eles essa lindeza de blog. E nem sempre as palavras chegam. Mesmo pq calam comovidas com tanta beleza que vcs nos presenteiam.
Um abraço
vera do val
O teu blog enche me a alma; sabes fui criado no meio da natureza e eh um regresso ahs origens. Obrigado pelo teu trabalho e disposicao para os outros
cumprimentos
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