Mais árvores, menos sombras (cont.)
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A propósito de um comentário meu ao texto "Mais árvores, menos sombras" (In Público, Local Porto-05.09.05) , a jornalista Andrea Cunha Freitas teve a gentileza de enviar um elucidativo mail com as informações (transcritas mais abaixo) que não foram então publicadas pelas razões que a seguir explica :
Sobre as árvores classificadas (e também sobre o trabalho de inventariação e diagnóstico desenvolvido pela equipa da Universidade de Trás-os-Montes) fiz um pequeno texto separado.
A questão do espaço nas páginas de um jornal é um factor a ter em conta quando se depara com assuntos tão vastos com "as árvores no Porto". Um assunto que, como sabe, pode encher de histórias as páginas de um livro inteiro. É impossível dizer tudo.
«O BI e a protecção legal
Nos últimos tempos as árvores têm merecido especial atenção quer com a atribuição de um Bilhete de Identidade, pessoal e intransmissível, quer com a recente classificação de mais de 240 exemplares.
Em 2004 a equipa de especialistas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) concluiu o diagnóstico e inventariação do arvoredo nos espaços públicos do Porto. Hoje, excluindo grandes parques municipais da cidade, as cerca de 30 mil árvores que existem nos espaços públicos têm um bilhete de identidade que permite não só saber a sua história e características como planear o seu futuro com eventuais intervenções.
Segundo a actual coordenadora deste trabalho, Isabel Lufinha, se somarmos a este número as árvores existentes nos grandes parques (Parque da Cidade, de S. Roque, da Quinta do Covelo, etc.) o número de árvores no Porto ultrapassará seguramente os 60 mil exemplares.
A base de dados, apoiada num Sistema de Informação Geográfica, tornou-se uma ferramenta precisa na gestão do património vivo e o trabalho desenvolvido nos últimos anos foi, em Julho, alvo de uma candidatura ao Concurso de Boas Práticas de Modernização Autárquica. Por outro lado, no início do ano, o número de exemplares classificados e protegidos por lei aumentou de 4 para 242, numa iniciativa proposta e promovida pela associação ambientalista Campo Aberto.
O perfil do parque arbóreo:
30 mil exemplares
164 espécies arbóreas
78 géneros
64 por cento de folhosas ornamentais
20 por cento de outras folhosas (fruteiras silvestres, plantas arcaicas, mediterrânicas e fagáceas)
16 por cento de resinosas ornamentais
60 por cento com necessidade de intervenção (desde uma simples rega ou poda a um abate)
15 por cento de árvores com interesse especial
30 por cento tem menos de 30 anos
40 por cento entre os 20 e os 50 anos
30 por cento com idades superiores a 50 anos
A árvore no Porto tem uma média de...
20 anos
7,2 metros de altura
17,5 centímetros de diâmetro (tronco)
4, 3 metros de diâmetro médio da copa
Andrea Cunha Freitas»
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(Só uma justa nota relativamente à classificação das árvores: as que foram classificadas este ano na cidade não foram exclusivamente por proposta da Campo Aberto; algumas foram propostas pela NDMALO (Nucleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro). Ver detalhes em Árvores classificadas do Porto. manueladlramos)
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5 comentários :
Manuela, vi a Araucaria de Âncora e, soube pelo seu proprietário(que estava no jardim)que se trata, afinal, de uma A.excelsa, tendo sido mal classificada em 1995. Terá uns 120-130 anos e, esta informação foi-lhe dita por um eng.silvicultor que está a fazer um livro sobre Araucarias. Na verdade, não dá pinhões...
Fátima
Sobre esta base de dados, com os B.I.'s das árvores do Porto, faltou dizer que não está acessível ao público. Devemos continuar ignorantes e confiar cegamente no uso que a Câmara faz da base para cuidar das árvores. Imaginamos, por isso, que o B.I. do frondoso plátano de Damião de Góis, cruelmente abatido com licença da Câmara, descreveria maleita irrecuperável. Pois...
No dia 14 de Agosto, coloquei este link "Quanto Vale Uma Árvore" no Sargaçal e achei a iniciativa muito interessante.
O site tem uma mapa, detalhando a localização de cada árvore e dando acesso ao tal BI da árvore. 106.000 árvores, para ser exacto.
Podia-se sugerir à CMP que fizesse algo igual ou parecido. Pelo que entendi, têm os dados informatizados, incluindo a informação geográfica.
(Já agora), relativamente aos dados apresentados, acho que uma cidade como o Porto tem muito poucas árvores. O dobro seria minimamente aceitável. Quanto à idade média ser de apenas 20 anos, acho miserável. Concluí que este blog é que tem razão: o património arbóreo da cidade tem sido dizimado. -- JRF
Já tinha lido no Sargaçal sobre essa iniciativa em Washington, que é de facto exemplar. Eram quantias da ordem dos milhares de euros que os responsáveis (fossem eles públicos ou privados) pelo abate de árvores adultas deveriam pagar cada vez que o fizessem com justificação espúria. Ainda há figuras púlicas (estou-me a lembrar do caso de uma intervenção de Oliveira Marques, da Metro do Porto) que têm a desfaçatez de usar a mais rasteira das contabilidades: abatem-se tantas árvores, plantam-se tantas, logo a cidade ganha tantas. O resultado desta tacanhez contabilística, ignorante do real valor de uma árvore adulta, está à vista nesta cidade com séculos de história em que as árvores têm vinte anos. E o mais trágico é adivinharmos, pela tendência que as coisas levam, que daqui a vinte anos as árvores do Porto continuarão a ter vinte anos...
daria um interessante projecto a apresentar ao Porto Digital ...
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