O abandono do Campo 24 de Agosto
Não podendo competir com Lisboa na profusão de jacarandás floridos, o Porto optou a dada altura pela qualidade: o jacarandá do largo do Viriato está numa categoria só dele, como é unanimemente reconhecido; e, no Campo 24 de Agosto, havia três outros que ocupavam ex aequo o segundo lugar do pódio. Até que veio o ano 2000 e com ele o arranque das obras da Metro do Porto: o Campo 24 de Agosto, tal como o Jardim do Marquês um pouco mais tarde, foi esventrado e convertido em estaleiro. Um dos jacarandás sucumbiu aos maus tratos; dos dois que sobraram no delapidado jardim, nenhum conserva hoje o vigor e a beleza de antes. (Para completar a necrologia da espécie, diga-se que o jacarandá de S. Roque também já não existe.) É também por desdenhar os seus jardins e as suas árvores que o Porto vai entristecendo - e disso a capital não tem culpa.
Após mais de quatro anos de obras, a estação de metro do Campo 24 de Agosto foi inaugurada em Junho de 2004, em conjunto com o troço Trindade-Estádio do Dragão: estava-se, é bom de ver, na véspera do Euro 2004. Completadas as obras e desmontado o estaleiro, era chegada a altura de cuidar do jardim. A sua recuperação nunca poderia ser total, pois o respiradouro circular tinha-lhe comido gorda fatia. (A propósito: é só impressão minha ou o metro no Porto tem mesmo os mais descomunais respiradouros à superfície de todos os sistemas de metro conhecidos? A bem da segurança, claro, pois os outros é que devem estar equivocados.) Entretanto mais dois anos se passaram, e no jardim nada aconteceu; mas em volta dele fizeram-se arranjos viários, assinados pelo intocável arquitecto do costume, com erros de palmatória no que à vegetação diz respeito: camélias plantadas em local ventoso e com muito sol (morreram quase todas pouco tempo depois); e o asfaltamento de um separador central para peões, asfixiando a magnólia que lá existia.
Soube-se, por notícia publicada no JN em 22 Maio de 2006, depois confirmada de viva voz pelo Vereador do Ambiente da Câmara do Porto, que os serviços camarários tinham elaborado um projecto de recuperação do Campo 24 de Agosto, a ser executado, num prazo curto, pela Metro do Porto. Era uma boa notícia: confrontando a recuperação do Jardim do Carregal com a do Jardim do Marquês, não pode haver dúvidas de que quem sabe mesmo como (re)fazer um jardim são os anónimos projectistas da Câmara e não o adulado arquitecto da Metro. Cinco meses depois nada mais se ouviu, e o jardim continua no estado de abandono que as fotos documentam. Até quando?
2 comentários :
Mais uma vez se prova que a orientação da Metro é fortemente inspirada na lógica limitada do raciocínio pequenino de quem a governa: só o que enche o olho se faz, mesmo que não seja o mais preciso!
No Jornal de Noticias- 11 de Maio de 2007«"24 de Agosto"será renovado
O degradado jardim do Campo de 24 de Agosto, no Porto, será finalmente recuperado. Só ontem é que a Empresa do Metro lançou o concurso público para a empreitada de beneficiação daquele espaço verde, sob a gestão da Câmara Municipal do Porto.
Em Fevereiro passado, a empresa afirmou, ao JN, que já tinha aberto o concurso e aguardava pela adjudicação. No entanto, o anúncio foi publicado ontem e visa a "integração paisagística do jardim e a recuperação do lago do Campo de 24 de Agosto". Esta será a última obra de requalificação urbana a fazer na cidade, relativa à primeira fase de expansão da rede do metro.
Obedecendo ao projecto disponibilizado pela Autarquia no ano passado, prevê-se que a intervenção custe cerca de 235,7 mil euros, suportados pelas duas entidades.
O Município portuense pagará um terço do custo da obra. O prazo de execução estimado ascende a 120 dias.
As empresas terão de entregar as propostas até ao dia 14 de Junho. Nesse sentido, mantém-se a expectativa de que os trabalhos de requalificação do espaço verde possam começar ainda este ano. Finda a intervenção, o jardim regressará à posse da Câmara.
Dois anos de espera
Há dois anos que o equipamento aguarda pela renovação prometida. Em Março de 2005, a Empresa do Metro iniciou os trabalhos de beneficiação do Campo de 24 de Agosto, que tinha ficado destruído com a construção da estação subterrânea.
A intervenção contemplava o arranjo do jardim municipal, mas ficou por fazer. O espaço está bastante danificado. É visível a falta de manutenção de uma área em que alguma vegetação vai sobrevivendo. Aí, o lixo (sobretudo latas de cerveja e cascas) acumula-se O largo está seco há dois anos (os patos e os peixes foram retirados) e a zona de clareira foi grafitada e vandalizada. Este espaço passou a ser apenas um local de atravessamento. Deixou de ser uma área de lazer. CSL »
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