05/07/2007

Narciso à beira-mar



Narciso-das-areias (Pancratium maritimum) - Parque das Dunas da Aguda

É doce morrer no mar,
Nas ondas verdes do mar.

...................Dorival Caymmi

Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar,
Sem nada já que me atraia, nem nada que desejar,
Farei um sonho, terei meu dia, fecharei a vida,
E nunca terei agonia, pois dormirei de seguida.

........................................................Fernando Pessoa

Este narciso, que completa todo o seu curto ciclo de vida à beira-mar, nunca perde, nas flores que são o seu rosto, a brancura sem mácula das heroínas dos romances vitorianos, que viviam fechadas em casa e não punham pé na praia sem a protecção do guarda-sol e de várias camadas de saias. Murcham-lhe as flores e tomba-lhe a haste, mas nunca um vermelhão ou inopinado bronze lhe desmancham a alvura da tez. Tem assomos de amarelo nos estames, mas são como toques de um pó-de-arroz matizado, que mais realçam, pelo delicado contraste, a palidez do conjunto. Conclusão? Os acasos da evolução condenaram o nosso narciso a uma forma de vida que violenta a sua índole. É com horror que vê chegar hordas de banhistas para torrarem ao sol. O que lhe vale, no Parque das Dunas da Aguda, é a cerca que delimita claramente a sua área exclusiva.

2 comentários :

a d´almeida nunes disse...

As pequenas maravilhas com que somos surpreendidos mesmo nas dunas...quando não as destroem por puro vandalismo ou incionsciência.
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http://dias-com-arvores.blogspot.com/search/label/Myrtaceae

Ainda lá estará, este eucalipto-de-flores-vermelhas?
Recentemente descobri um em Leiria. Tenho-o andado a acompanhar há já uns meses. É, de facto, um espectáculo!
Um dia destes apresento-o...
António Nunes

Vicktor Reis disse...

Encontrei uma dessas maravilhas nas dunas doiradas do Grande Areal de Costa de Caparica e fiquei encantado.
Victor