07/09/2007

Não pise a salada


Portulaca oleracea

Para sobreviver ao desgaste dos séculos, as palavras disfarçam-se a ponto de esconderem a sua origem ancestral. Ninguém diria (a não ser o dicionário), mas beldroega é a forma que a palavra latina portulaca adoptou para se apresentar como portuguesa. Os dois vocábulos designam a mesma planta herbácea a que Lineu deu o nome de Portulaca oleracea. Trata-se de uma ervinha carnuda e prostrada, cultivada ocasionalmente em vaso, frequente um pouco por todo o lado em terrenos baldios ou mesmo entre as pedras da rua; as flores têm 1 cm de diâmetro e aparecem nas extremidades da planta. Insignificante como é, quantas vezes não a teremos pisado sem dar por isso? E, no entanto, ela come-se: o talo e as folhas aproveitam-se para salada; e Maria de Lourdes Modesto, no seu opus magnum «Cozinha Tradicional Portuguesa», dá uma receita alentejana de Sopa de Beldroegas com Queijinhos e Ovos. Não transcrevo a receita, pois outros blogues já o fizeram sem indicar a fonte, e parece-me desajustado ensinar a outrém aquilo que não tenho a menor intenção de experimentar. É que já faz uns anos que não cozinho, e as sopas alentejanas (esta não é excepção) têm alho a mais para o meu gosto.

9 comentários :

Paulo Pereira disse...

Muito boa por sinal!

Anónimo disse...

Parece impossível!
A dizer mal de uma boa sopa de beldroegas...

Paulo Araújo disse...

Leve isso à conta de um paladar conservador e pouco educado. A culpa não é da sopa, mas minha, que não a quero comer.

eduardo b. disse...

Eu não sou ninguém para falar pela sopa alentejana, mas parece-me uma posta lamentável, esta, que ainda por cima introduz no espaço público o conceito de "alho a mais".

a d´almeida nunes disse...

Caro Paulo Araújo
É sempre com renovado prazer que aqui venho regalar a vista com fotografias de excelente qualidade, enquadradas por textos muito elucidativos e escritos duma forma extremamente acessível e de leitura leve para os leigos, como eu.
Aproveito para lhe agradecer o comentário que deixou no "dispersamente" por causa daquela história do Quercus, que devia estar junto à dita placa comemorativa e que, afinal, se confirma não corresponde ao que vem anunciado.
Enviei e-mail para a Câmara, mas até agora nada. Estou na disposição de insisitir porque penso que aquela distracção tem de ser corrigida. Ou se muda a placa ou se transplanta/troca a árvore. Tarefa que, aliás, não deve ser assim tão complicada como isso dada a juventude da mesma. Há que escolher o período certo. Mas que devem dar uma satisfação às pessoas que se interessam pela cidade. Isso é um facto.
um abraço
antonio

a d´almeida nunes disse...

Vinha com ideias de falar de saladas, mas com tanta salada russa fiquei-me pelos comentários por causa do Q robur ou rubra.

Anónimo disse...

Em criança, nos Açores, comi muita sopa de beldroegas feita quer pela minha mãe, quer pela minha avó. Agora é raríssimo encontrar beldroegas em concentração suficiente para se apanhar e fazer sopa. Aproveito a oportunidade para sublinhar o puxão de orelhas pedagógico que o Paulo deu a quem usa coisas de outros sem atribuir paternidades. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)

bettips disse...

... e ainda, culinária! Por sinal, um livro luxuoso do ponto de vista da tradição portuguesa do bem comer, com umas fotos fabulosas. Quanto à sopa, lá comiam-se as ervas que o diabo amassou... Aqui, as beldroegas parecem umas "senhoras"! Abçs

Anónimo disse...

Num vaso onde tenho um limoeiro nasceram pés de beldroegas que se desenvolveram tanto que já deram para fazer várias vezes sopa das ditas. São levemente picantes, o que dá um gosto especial à sopa.
Quanto à questão do alho, não precisa de seguir a receita à risca. Eu faço-a com muito menos alho e sem queijo e fica muito boa. Também pode fazer uma sopa de legumes normal e juntar os raminhos de beldroegas como se fossem agriões ou espinafres, etc.