Comensais
Pedicularis sylvatica
A planta é tão rasteira que, de nariz no ar a comparar mastros de eucaliptos, quase não reparávamos nela. Os caules são delgados, as folhas reduzidas a preguiçosas escamas que há muito abdicaram do trabalho honesto da fotossíntese. As estruturas de transporte de água e as raízes, sem terem muito com que se preocupar, são também diminutas. O que sobra? Orgãos de sucção especiais que penetram na raiz duma planta hospedeira e daí retiram alimento; e belas flores a negar aos mais cruéis a coragem de as arrancar.
A Pedicularis sylvatica é erva monóica, perene, europeia a quem as flores bilabiadas dão um notório ar de mendiga. Parte da flor é um bico saliente com dois dentinhos suplicantes, apoiado em três lóbulos de mão-estendida. Tudo a fingir porque, enquanto implora uns trocos para a sopa e roga lume para um cigarro, subtrai o que pode da mesa alheia. É a versão vegetal do vizinho que se aproveita da nossa rede sem fios para navegar sem despesa na internet, talvez para saber mais sobre o descansado mundo dos parasitas.
Neste género a hibridação é frequente e existem cerca de 50 subspécies de P. sylvatica. A da foto gosta tanto do aconchego da floresta que recebeu o epíteto específico em dose dupla.
1 comentário :
Olhando perto o chão de caruma...o que se pensa e vê! Ah...e ao tempo que não escrevia este nome de folha seca, por onde andavam os meus pés descalços e meninos.
Abçs
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