Cravo lilás
Dianthus monspessulanus subesp. sternbergii
«Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus.
E é assim que a noite chega, e dentro dela te procuro, encostado ao teu nome, pelas ruas álgidas onde tu não passas, a solidão aberta nos dedos como um cravo. (...)
Que posso eu fazer senão escutar o coração inseguro dos pássaros, encostar a face ao rosto lunar dos bêbados e perguntar o que aconteceu.»
Eugénio de Andrade, Primeiramente (As Palavras Interditas, 1951)
1 comentário :
Que poema mais ...pungente, com este cravo encostado ao vidro duma janela vazia...
(tal a casa dele, tão triste se vê!)
Abçs
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