Plantas-de-estimação
Bartsia trixago
Segundo o Stearn's dictionary of plant names for gardeners, a palavra Orobanche contém o termo grego anche, estrangular. Dela deriva o nome de família das plantas das fotos, numa leitura sinistra da natureza que detalhamos em seguida. Os sábios concluiram que bajular é coisa que estas orobancáceas fazem desde pequeninas. Bastar-lhes-ia, claro, apropriarem-se furtivamente da seiva alheia, mas esse seria um trabalho que as entediaria até à ponta das folhas. Afinal move-as um mal secreto feito de dois dentes de gula, uma colher cheia de cobiça e um raminho de inveja. E, marotas, depositam no topo de cada folha uma manchinha verde para disfarçar a sua índole de parasitas.
Esta ousadia de linguagem é usual em quem humaniza o mundo, mesmo o não-animal. O terreno onde encontrámos estas plantas estava forrado com dezenas de pés delas. Ora esta quantidade não pode ser ignorada: num reino só de reis, ou só de ladrões, é-se obrigado a tirar com uma mão o que se entrega com a outra. Neste contexto um roubo é só meia verdade - ou meia-mentira - e, naturalmente, uma planta meio-honesta exige ser elevada a semi-parasita. Alguns devotos decretam que há escândalo nesta nossa interpretação por configurar uma união de facto dentro do mesmo género. Ignoram como embriaga a conquista de qualquer ser arredio, que, como um gato, devagar se torna dócil até ao afago.
De qualquer modo, fonte fidedigna assegura que as espécies do género Orobanche, parasitas que nem têm clorofila, escolhem com frequência nichos onde passe despercebida a opção de viver ao colo dos vizinhos. Por exemplo, a famosa Orobanche hederae elegeu, para sua proveitosa companhia, a hera (Hedera helix) do cemitério de Highgate onde, lemos algures, a biodiversidade é um dos motivos de atracção.
Parentucellia viscosa
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