Cornucópia
Fedia cornucopiae (L.) Gaertn.
Uma semente é uma planta em projecto equipada com farnel e casaco. Por vezes há ainda uma polpa, mais ou menos carnuda e apetecível, a envolver o conjunto. Para a germinação, contudo, não basta esta estrutura esmerada: a dispersão da semente, essencial para a manutenção da espécie e para se evitar a competição, por território e nutrientes, com a planta mãe, depende em geral de colaboradores que podem ser esquivos ou difíceis de contentar. O tamanho, a forma, o peso, a robustez quando ingerida, o período de dormência e a longevidade da semente - além da cor, aroma e sabor do fruto - são determinantes para a preservação da espécie: depois de uma infância calma, sem a aventura perigosa de amadurecer demasiado cedo, há que seduzir o mundo para garantir a viagem até local propício onde nasça o rebento.
O ajuste destas características assegura o transporte eficiente pelo vento (que guia até mais longe sementes mais leves, ou que têm asas que lhes permitem aproveitar as correntes de ar), pela água (que não pode corromper a semente, a quem não convém afundar-se, por isso a casca tem de ser feita de material flutuante e impermeável) ou por animais (que as consomem ou transportam no bico ou no pêlo, se a semente tiver apêndices ou gomas que a segurem). Algumas plantas, contudo, confiam apenas na auto-dispersão, disparando elas as sementes para ambientes favoráveis ou dotando-as de mecanismo engenhoso que lhes permite moverem-se. Outras espécies há que investem num seguro de vida: criam várias configurações da semente/fruto para agradar a diferentes tipos de propagadores, ficando assim precavidas contra algum evento que possa ser desastroso para a sua sobrevivência.
Vem isto a propósito da Fedia cornucopiae, herbácea endémica da região mediterrânica que atinge uns 15cm de altura, e que representa o caso mais notável de polimorfismo. Os seus frutos são dispersos pela água, vento, formigas ou outros animais de maior porte e, como estes três agentes têm exigências distintas, a horn-of-plenty produz, numa mesma planta, frutos com a morfologia que melhor se adequa a quem os propaga:
- estreitos e com uma bainha num dos topos da semente para permitir o transporte pelas formigas - que, como recompensa, se banqueteiam com uma guloseima que ali lhes é oferecida, deixando o resto da semente intacta e viável;
- insuflados como balões para serem transportados pela água ou vento, mas sem o agrado-de-boca;
- com uma coroa de dois dentinhos triangulares que se agarra a qualquer bicho peludo que se acerque.
Sem comentários :
Enviar um comentário