Ruínas azuis
Wahlenbergia hederacea (L.) Rchb.
Ruínas, com a crueza do plural, é a designação vernácula deste ser tão miudinho e mimoso. Talvez se queira chamar a atenção para a pequenez de folhas e flores, a rondar os 15mm, que contribui para um certo aspecto geral de desmoronamento; ou, quem sabe, se castigue a aparente desarrumação em que mora, formando manchas confusas de verde, com narizes quase translúcidos de flores azuis, a rastejar no solo enquanto enraíza os cotovelos. Certo é que, sendo espécie anual, morre em poucas semanas depois de assim se alindar. Adiante: como disse o Duque de Gandia sobre a morte de Isabel de Portugal, Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
As folhas, alternadas e glabras, são versões homotéticas das da hera; as flores, de longo pedúnculo, são cópias quase perfeitas de campânulas. Mas, para que a botânica não se resuma às conclusões ingénuas do nosso olhar amador, o fruto não se assemelha ao usual no género Campanula: tem três válvulas no topo para verter as sementes em vez de poros laterais. Por isso, apesar de ter sido primeiro registada por Bauhin, em 1596, como Campanula Cymbalariae foliis, a partir de exemplares de Paris e Toulouse, e de Lineu a ter renomeado como Campanula hederaceae, o nome do género mudou em 1821 para Wahlenbergia, por semelhança com a sul-africana W. capensis. Georg Wahlenberg (1780-1851) foi botânico e professor em Uppsala, sucessor nesse cargo de C. P. Thunberg.
A Wahlenbergia gosta da terra húmida de paul e do ar frio das montanhas do oeste europeu, mas na Europa há essencialmente duas espécies silvestres. O género tem representantes perenes em regiões menos quentes de África (de facto, das cerca de 150 espécies, 60 estão na vizinhança do Cabo), Nova Zelândia e Austrália. Crê-se que, como sucedeu noutros reinos, a W. hederacea descenda de espécie africana que migrou para norte.
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