Árvore da castidade
Vitex agnus-castus L.
Um novidadeiro não trilha a rotina despreocupada do carteiro para quem a indiferença e alguma ignorância são obrigatórias. Conta o passado como deveria ter sido, cada notícia a um passo do engano, erguendo, no esbatido antigo, o novo luzidio. Arrisquemos, contudo.
Visitámos há dias o Jardim Botânico de Coimbra e, surpresa, este ano as condições na estufa menor foram melhoradas e as sementes de Victoria amazonica (do Amazonas, onde a vimos a revestir completamente muitos hectares de rio enquanto servia de pouso a pássaros coloridos) germinaram. O lago está agora quase coberto com meia dúzia de folhas que rodeiam três - não, não exagero - botões de flor, um já desabotoado e exibindo uma water-lily gordinha, branca quando a vimos, seria rosa no dia seguinte, e último, da breve passagem desta flor acima da água. Não lhe conto mais, caro leitor, sugiro que vá lá ver estas maravilhas. Não, espere: na verdade as estufas não se podem visitar. Só se se juntar a mais cinco interessados e aceitar integrar uma visita guiada. Assim é que foi.
Num dos terraços de acesso interdito, mas desta vez franqueado, está uma pequena árvore que há muito esperávamos ver em flor. Trata-se de um Vitex agnus-castus, espécie comum na região que se estende do Mediterrâneo até à Ásia central, outrora popular em jardins pela copa elegante, as folhas palmadas pontiagudas com aroma a resina e, sobretudo, pela floração tardia, que começa no Verão e se estende até ao fim do Outono. As flores perfumadas de cor lilás, agrupadas em espigas terminais, têm 5 sépalas unidas a formar um cálice e 5 pétalas, sendo uma mais longa. O fruto é uma baga vermelha, que dizem ser bom substituto da pimenta, por isso este género esteve na família Verbenaceae. Os ramos são flexíveis e usados em cestaria; conta-se que uma preparação chinesa com as folhas, frutos e raízes é usada contra os resfriados; e que na Indonésia as folhas são fumadas para debelar as enxaquecas.
O género Vitex contém cerca de 20 espécies de árvores e arbustos, muitas de África, a maioria de origem tropical. Amanhã visitaremos outra, de que há um espécime no Jardim Botânico do Porto, cujas flores minúsculas nascem marcadas como era, em tempos bárbaros mas idos, o gado com ferro em brasa.
1 comentário :
Maria, apesar de ser brasileira, ainda não tive o prazer de ver uma vitória-régia, mas conheço sua história. Já fiz um post falando sobre ela:
http://nacozinhabrasil-gina.blogspot.com/2009/06/alimento-com-sabor-de-infancia.html
Bjs.
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