07/08/2009

Mata da Margaraça



Mata da Margaraça: carvalho-alvarinho, ribeira, moinho de água e arvoredo (loureiro, loureiro-cerejo, ulmeiro, vidoeiro); cerejeira com frutos

Nesta região do centro do país, adulterada pela plantação intensiva de eucaliptos e pinheiros, regularmente varrida por incêndios, a existência da Mata da Margaraça é pouco menos que milagrosa: um bosque autóctone quase intocado, estendendo-se por mais de 60 hectares, onde predominam castanheiros e carvalhos (Quercus robur), mas onde também se encontram ulmeiros, vidoeiros (Betula alba), folhados (Viburnum tinus), medronheiros, azereiros (Prunus lusitanica), cerejeiras, azevinhos, loureiros, aveleiras e salgueiros (Salix atrocinerea). Por toda a mata se vêem rebentos de futuras árvores, mostrando como ela se vem renovando espontaneamente. É um ecossistema em perfeito equilíbrio, com inúmeras nascentes irrompendo do xisto para formar refrescantes cursos de água que nem no Verão chegam a secar.

Como se vai para a Mata da Margaraça? O mais simples é procurar Côja num mapa de estradas e, uma vez lá, seguir as placas indicativas; a primeira delas aparece logo depois de atravessarmos a velha ponte sobre o rio Alva. Antes de chegarmos à mata, passamos ainda pelas aldeias de Benfeita e Pardieiros, e cruzamos o caminho de acesso à Fraga da Pena. Na Margaraça há um centro para atendimento de visitantes - que, durante o Verão, abre também aos fins-de-semana - e, na parte mais baixa da mata, um percurso assinalado com setas que termina, junto à ribeira, num enigmático beco sem saída. Muito pouco se ganha, porém, em obedecer às setas: afinal, a mata não é tão grande que alguém corra o risco de se perder; e há muita coisa boa (como as cerejas, minúsculas mas deliciosas) fora do percurso indicado. A parte da mata acima da estrada, embora com árvores em geral mais jovens e talvez por isso com menos encanto, guarda, a nível herbáceo e arbustivo, o que de mais interessante lá se pode ver. Terá sido para pôr essa riqueza botânica a salvo de visitantes incautos ou mal intencionados que o Instituto de Conservação da Natureza, que gere este espaço, não marcou qualquer percurso na metade superior da mata? Tanta cautela confunde-se com egoísmo e recusa em partilhar o que é belo; e é afinal contraproducente, pois acaba por desiludir e afastar aqueles que mais proveito tirariam de uma visita à mata.

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