Quarto com vista, 1
Lódãos (Celtis australis L.) - Av. Luís Bivar, Lisboa
As instruções tinham sido claras. Uma voz feminina com sotaque espanhol falara comigo ao telefone, e uns dias depois chegara-me por email a confirmação. Devia apresentar-me às 9:30 da manhã no Instituto Luso-Gaulês para me ser entregue o diploma em cerimónia pública. Por isso, numa noite de domingo em Novembro - escura como todas as noites mas, apesar da garoa, tépida e nada tempestuosa -, percorri o quadriculado de ruas de São Sebastião da Pedreira em demanda do hotel onde me tinha sido reservado quarto. O jardim da Fundação Gulbenkian e o Parque Eduardo VII ficam aqui mesmo ao lado, assim como a maternidade que tantos portugueses deu ao mundo, mas estas ruas eram-me desconhecidas: um bairro residencial sossegado, com muitas árvores, num triângulo delimitado por inóspitas vias de circulação automóvel.
Largada a mochila no hotel, saí para jantar. Tal como sucede no Porto, também em Lisboa os restaurantes fecham ao domingo, o que me deu ocasião para calcorrear a vizinhança até topar - na avenida Conde de Valbom, junto a umas tipuanas de encher o olho - com uma cervejaria de portas abertas. Na maioria das ruas e avenidas do bairro, são os lódãos, plantados em alinhamentos duplos, que formam frondosos cordões de verdura. Apesar da presença convidativa das árvores, as placas centrais foram reservadas ao estacionamento e são impróprias para peões, mas é consolador que o convívio sempre problemático entre automóveis e árvores não tenha tido aqui o habitual desfecho funesto.
Na manhã seguinte, fosca e prometendo já a chuva violenta que cairia ao princípio da tarde, saí para a varanda e tirei estas fotos do oitavo andar onde me calhara dormir. Numa cidade e num país que não se distinguem pela dendrofilia, é uma surpresa gratificante acordar numa avenida ocupada a toda a largura pelas copas das árvores.
3 comentários :
Paulo, há uns anos nessa área, conhecida como avenidas novas, todas as ruas tinham separadores centrais com árvores, no intervalo das quais a partir de certa altura começaram a estacionar os carros.
Depois começou a fúria destruidora dos sentidos únicos e vias rápidas nas Avenidas João Crisóstomo e Miguel Bombarda, e lá foi uma quantidade de árvores. Espero que tenham ficado mais calmos, mas quando acabarem as obras do metro se calhar dá-lhes mais um ataque qualquer.
Por isso, aproveite a paisagem enquanto existe. E parabéns pelo diploma.
É assim a capital... Parece confusa mas ainda vai tendo uns recantos bem agradáveis.
Parabéns pelo diploma.
Luz
Obrigado pelos comentários. O diploma ficou guardado na gaveta, pois não sei bem que uso lhe dar. Mas sem ele não teria conhecido essas ruas de Lisboa - que, de facto, são agradáveis, embora, omo esclarece a Gi, estejam sempre em risco de serem transformadas para pior. Em Portugal dizemos muitas vezes "ainda", resultado talvez de a experiência nos ter ensinado que tudo quanto é precioso é provisório e precário.
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