08/12/2009

Árvore das passas


Hovenia dulcis Thunb.

No fim do ano passado, naquele minuto e meio em que se engolem com fervor 12 passas - cobiçando apenas o útil e agradável, sem nunca entender o alcance dessa oração em que se comem as contas do rosário - desejámos conseguir identificar esta árvore. Mora num canteiro de cimento nas traseiras de uma estufa do Jardim Botânico do Porto e, confessamos, tentámos forçar a sorte questionando um dos jardineiros sobre o nome dela. Sei o nome, sim senhora, disse-mo uma vez o Doutor (...), mas agora não o tenho presente.

Observem-na como nós o fizemos semanas a fio. Tem uma copa aberta, ramagem longa, folhas alternadas em forma de coração, com três nervuras na base, um longo pecíolo, ápice pontiagudo, margens serradas e face inferior levemente pubescente. As panículas terminais de flores pequeninas hermafroditas (é certo, isto mal se vê) branco-verdosas de cinco pétalas nascem no Verão e são muito perfumadas. E os pedúnculos, depois de a flor cair, intumescem e o recheio sabe a passas sem graínhas embebidas em mel.

Releia isto, natalício leitor, não é todos os dias com árvores que aqui servimos tão singela iguaria.

E para que serve tal requinte de mesa, a quem se destina? Com quem faz esta árvore negócio através desta ambrósia? Dizem os cientistas que se trata de mutualismo com formigas, sobretudo enquanto a planta é jovem, para a proteger de animais herbívoros.

O fruto é essa bolinha verde na ponta do açúcar-em-pau, que amadurece pardusca e contém três sementes, essenciais à planta pois ela não tem outro modo de se multiplicar.

Por mero acaso (ou foram as passas?), quando já não o esperávamos, descobrimos uma foto dela no livro Los árboles y arbustos de la Península Ibérica e Islas Baleares, de G. López González (Mundi-Prensa, 2.ª edição, 2006). Sabemos agora que o género Hovenia é pequeno (sete espécies, que talvez se venham a reduzir a duas, do este e sudeste da Ásia, desenvolvendo-se melhor em regiões de clima quente e seco e solos alcalinos) e que Hovenia deriva de David ten Hove (1724-1787), um holandês que financiou a expedição de Thunberg em 1772-1776 à África do Sul, Java e Japão.

3 comentários :

Unknown disse...

Que interessante, Maria Carvalho! E é nesta época natalícia que podemos saborear este maná?
Estou muito curiosa e com vontade de fazê-o o mais breve possível.

Obrigada por toda a magnífica informação que nos continuam a dar. ( Espero que um dia o vosso Livro de Saberes e Curiosidaes Vegetais apareça!).MD

Maria Carvalho disse...

Sim, estão prontas para serem comidas. Está a ser difícil guardar algumas para o Natal... :)

Anónimo disse...

Quer, por favor, espreitar o blog de Neide, minha amiga brasileira?
Tenho a certeza de que o vai achar muito interessante:
http://come-se.blogspot.com/2008/05/tempo-de-uva-japonesa.html
http://come-se.blogspot.com/2008/05/tempo-de.html
Manuela Soares