Sagrada família
A Sagrada Família comia connosco cinco dias por mês. Ficava, sem ruído, sobre a mesa da sala. Brilhava no escuro a chama diminuta de uma lamparina. Disputávamos a honra da moeda na ranhura sob os pés de S. José. Espécie de slot-machine cujo prémio era o regresso do pai, a bofetada, o princípio da autoridade. Anos depois, cabia ao filho mais velho o cuidado de transportar a imagem a casa do vizinho. Trezentos metros a fugir das pedras e das bocas infiéis. Até ao dia em que o pai ficou de vez, para dar por terminada a brincadeira. Agora, todas as frases eram rematadas por pontos de exclamação, as portas começavam a bater mais depressa. Nenhum dos filhos levantava a cabeça quando a mãe nos perguntava, ainda: quem quer apostar na Sagrada Família?
José Miguel Silva, Vista para um pátio (Relógio D' Água, 2003)
2 comentários :
Está linda, essa Doryanthes palmeri.
Há várias no Jardim Botânico da Politécnica, em Lisboa. Está uma a florir mas ainda não tinha iniciado a abertura das flores. Serão aguardadas ainda mais ansiosamente agora!
Boas Festas.
As fotos foram tiradas em 2006, em fins de Abril e princípios de Maio. A de cima é do Botânico do Porto, a de baixo (grande plano das flores) é do Botânico de Coimbra. Talvez em Lisboa floresçam mais cedo, mas isso da divisão entre estações está cada vez mais confuso. Não sei dizer se a Doryanthes palmeri do Porto ainda existe - hei-de verificar um dia destes.
E fica também o desejo de Boas Festas.
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