13/01/2011

O quinto cavaleiro

Centaurium spicatum (L.) Fritsch
Para recordar os outros quatro cavaleiros (ou, mais correctamente, centauros) que já por aqui desfilaram, o leitor não tem mais do que clicar na etiqueta Gentianaceae aí em baixo. O Centaurium spicatum tem aquelas flores de cinco pétalas, delicadamente rosadas, que são apanágio do seu género; e, de facto, a sua semelhança com o C. tenuiflorum justifica algumas cautelas. Uma diferença entre as duas espécies é que, no C. tenuiflorum, o cálice da flor é notoriamente mais curto do que o tubo da corola, enquanto que no C. spicatum os dois têm aproxidamente o mesmo comprimento. Outra diferença é a disposição das flores: em umbela no C. tenuiflorum, em espiga no C. spicatum. Neste último, além disso, as flores estão geralmente todas voltadas para o mesmo lado e costumam abrir poucas de cada vez. De resto, tanto o C. spicatum como o C. tenuiflorum são ervas anuais (ou, quando muito, bienais) que raramente ultrapassam os 30 ou 40 cm de altura.

Para quê aborrecer o leitor com estas minúcias da morfologia vegetal? É que é importante estabelecer, sem margem para dúvidas, a identidade do nosso quinto cavaleiro. De acordo com João do Amaral Franco, na sua Nova Flora de Portugal (vol. 2), o Centaurium spicatum, no nosso país, só ocorre no sotavento algarvio e no litoral entre a ria de Aveiro e Lisboa. Tê-lo encontrado no concelho de Esposende alarga até ao Minho a sua área de distribuição. O que, aliás, não é grande surpresa, pois sabe-se de fonte segura que ele está presente no litoral galego.

O Parque Natural do Litoral Norte, que já se chamou Área Protegida do Litoral de Esposende, tem feito umas tímidas mas benéficas intervenções na foz do Cávado. Uma delas foi a colocação de um passadiço de madeira com cerca de 1,5 km de extensão ao longo do estuário do rio. É junto a esse viaduto de madeira apoiado em estacas, numa zona de vegetação rala, que mora uma pequena população de C. spicatum, acompanhada por outra igualmente escassa de C. maritimum. São vidas efémeras que só se mostram três meses em cada ano, a partir de Maio, desaparecendo com a chegada dos veraneantes.

2 comentários :

Carlos Aguiar disse...

Mais um post de grande interesse. As novidades corológicas que aqui vamos encontrando estão publicadas?

Paulo Araújo disse...

É muita gentileza sua, Carlos, até porque as novidades por aqui são poucas e de pequena monta. Aliás, não saberíamos sequer como fazer para «publicar» essas mini-descobertas. Que, acho, são inevitáveis por isto: os botânicos que em Portugal fazem trabalho de campo são tão poucos que há muitos locais que ficam a descoberto - ou, pelo menos, que não são visitados com suficiente regularidade. Assim, é natural que os amadores encontrem coisas que não foram registadas.

O que importa, independentemente da oficialização, é que essas coisas se conheçam. Por isso acho que uma iniciativa como a BioDiversity4All tem um enorme potencial (embora eu próprio não contribua para ela por falta de tempo).