Alecrim aos muros
Phagnalon saxatile (L.) Cass.
Se mesmo nas paisagens que julgamos intocadas o revestimento vegetal foi moldado pela acção humana, como pode na cidade, onde nenhuma parcela de terra ficou por devassar, sobrar alguma amostra de vegetação espontânea? A resposta é que essa vegetação existe, mas teve de se adaptar à transformação do habitat. Há plantas que fizeram com tamanho sucesso a transição para o mundo artificial por nós criado que já não parecem capazes de sobreviver em espaços naturais — do mesmo modo que um gato doméstico já não está apto para a vida na selva. Um exemplo flagrante é dado pela Cymbalaria muralis: onde estava ela antes de existirem muros, aldeias e cidades?
O alecrim-das-paredes (Phagnalon saxatile) não é um exemplo tão extremo de domesticação: pode viver nos velhos muros da cidade (como acontece no Porto), mas também surge em terrenos pedregosos e fendas de rochas longe das aglomerações urbanas. E aí até tem a esperança de vida reforçada, pois na cidade volta e meia vêm "limpar" os muros e lá se vai o alecrim. As plantas das fotos, antigas moradoras da rua da Restauração, foram também vítimas desse conceito paranóico de higiene pública que persegue tudo quanto não é artificial.
Antes que alguém lhe queira dar uso culinário, convém ressalvar que o Phagnalon saxatile não tem qualidades aromáticas dignas de nota, nem está ligado por qualquer parentesco ao verdadeiro alecrim (Rosmarinus officinalis). Como aliás é óbvio pela comparação das flores, as duas plantas pertencem a famílias botânicas muito afastadas (o Phagnalon é uma composta, o Rosmarinus uma labiada), e as semelhanças que exibem (o carácter lenhoso, a forma das folhas, a ramificação) são apenas superficiais.
O alecrim-das-paredes, que apresenta hastes erectas e tem um aspecto geral lanudo, é um arbusto com não mais que 50 cm de altura. As folhas são lineares, verdes por cima, brancas e aveludadas por baixo, e têm 3 a 4 cm de comprimento. Floresce de Abril a Julho, e é vulgar em quase todo o nosso território continental. Globalmente, a sua área de distribuição abrange o centro e oeste da bacia mediterrânica, estendendo-se ainda aos arquipélagos atlânticos da Madeira e das Canárias.
3 comentários :
Olá Paulo
Apesar de cada vez mais atento ao que cresce 'nos paralelos',sou mesmo iniciado face às surpresas que aqui encontro.
Discreta mas muito bela, muito resultado da forma como a fotografaste de cima.
Cumprimentos
Carlos Silva
Belíssima, sem dúvida!!
ZG:
Obrigado pela gentileza.
Carlos:
Ora essa, ainda fico a pensar que sou fotógrafo. Os paralelipípedos da rua não são um habitat desprezível - e só é pena os carros não o deixarem observar melhor - mas esta planta é maiorzinha e precisa de mais espaço.
Abraço,
Paulo
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