Bandeira branca
Lepidium heterophyllum Benth.
De todas as províncias de Portugal continental, esta planta, segunda a Flora Ibérica, só não ocorre no Ribatejo e no Baixo Alentejo. Nativa do centro e oeste europeus, e naturalizada no norte da Europa, América do Norte e Nova Zelândia, o Lepidium heterophyllum não é de modo nenhum, aqui ou noutras paragens, uma raridade botânica. Como pudemos então estar tanto tempo sem notar as floridas bandeiras brancas que ela hasteia na Primavera? Talvez a razão seja o relativo anonimato em que se perdem a generalidade das crucíferas, pois o excesso de oferta, sabem-no até os economistas, provoca a desvalorização de qualquer produto. Ainda assim não estou convencido — e o uso quase automático do verbo hastear sugere porquê. Hastear significa prender no alto, o que, sendo algo exagerado no caso presente, indica que a planta, não ultrapassando embora os 45 cm de altura, se torna bem visível no período de floração. Aliás, como fica claro pelas fotos aí em cima, a planta não deixa de crescer enquanto floresce: as flores surgem inicialmente em cachos compactos, mas com a frutificação o caule estica e as silíquas, que fazem lembrar pequenas colheres, ficam dispostas em espigas alongadas.
Planta vivaz de rizoma lenhoso, o Lepidium heterophyllum floresce de Abril a Junho em habitats variados: baldios, pastagens, bermas de caminhos. Tal como anuncia o epíteto heterophyllum, a planta produz diferentes tipos de folhagem: as folhas caulinares são sésseis, de margens dentadas, contrastando com as folhas basais (não visíveis nas fotos) de margens inteiras e pecíolo longos.
Ainda que se lhe não conheça utilidade para nós, humanos — pois nem sequer recebeu nome vernáculo —, o Lepidium heterophyllum tem um primo, o L. sativum, possivelmente originário do Médio Oriente, que é muito usado como erva aromática e medicinal. Conhecido como garden cress, cresson alénois ou mastruço, é amplamente cultivado para salada em vários países europeus, e na Índia as suas sementes têm uso terapêutico. São indicadas para obstipações, o que talvez explique o enigmático nome português erva-do-esforço.
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