Em pedras deitada
Linaria supina (L.) Chaz. subsp. supina
As linárias, a que em português chamamos esporas-bravas ou ansarinas, constituem um género da mais alta produtividade a nível ibérico, um caso exemplar de diferenciação competitiva no contexto europeu — da qual, infelizmente, não tiramos proveitos económicos. São mais de 50 as espécies contabilizadas entre Portugal e Espanha. Como sempre sucede quando há grande profusão de espécies aparentadas, a delimitação entre elas por vezes não é clara e está sujeita a revisões periódicas. A linária de flores amarelas (ou por vezes arroxeadas) que surge nas dunas litorais de norte a sul do país era, até há pouco, chamada Linaria caesia subsp. decumbens, mas a Flora Ibérica mudou-a para Linaria polygalifolia. A mesma Flora Ibérica sustenta, contra a opinião de Franco no vol. II da Nova Flora de Portugal, que a Linaria caesia propriamente dita, a que Franco chamou L. caesia subsp. caesia, não existe em Portugal. As plantas a que Franco atribuiu esse nome, ainda de acordo com a Flora Ibérica, serão antes Linaria supina subsp. supina. Para que a confusão seja perfeita, a mesma obra de referência sugere a possibilidade de a Linaria supina subsp. maritima, que se distinguiria da Linaria polygalifolia pelas flores muito pálidas e por pouco mais, ocorrer nas areias costeiras do Minho e Douro Litoral.
Com este intróito ficou o leitor por certo impressionado com a dificuldade do assunto. São coisas em que só os especialistas pegam, e mesmo esses não pegam todos do mesmo jeito. O leitor até sorrirá da nossa jactância, ao darmos nome à planta das fotos com uma certeza que não pode estar ao nosso alcance. É verdade que a L. supina e a L. polygalifolia se diferenciam mal à vista desarmada: têm os mesmos caules semiprostrados, as mesmas folhas quase lineares, as mesmas flores agrupadas em idênticos cachos. Mas há um detalhe que vem em socorro dos ignorantes: a L. polygalifolia só ocorre à beira-mar, enquanto que a L. supina vive em sítios pedregosos, nos calcários do centro-oeste. Diz-me onde moras, e dir-te-ei quem és.
Convém ressalvar que é possível reconhecer diferenças morfológicas entre as duas espécies. A L. polygalifolia é uma planta quase glabra, podendo quando muito apresentar escassos pêlos glandulares nas inflorescências; a Linaria supina, por seu turno, tem uma inflorescência claramente hirsuta, como se pode observar nas fotos. Diferenças menos evidentes são o comprimento dos caules (mais curtos os da L. supina) e o formato e ornamentação das sementes.
A Linaria supina, ou ansarina-dos-calcários, é bem menos comum do que a ansarina-das-areias. Encontrámo-la talvez meia-dúzia de vezes nas serras de Aire e Candeeiros e em Sicó.
3 comentários :
O regaço das pedras e a bandeira da flor.
Abrçs
Olá Paulo (e Maria)
E vai uma mais ..para a conta das correcções;fotografara-a já em 2009 (e lá não mais voltei!) e havia-a nomeado L. caesia e estaria bem (com as que no litoral norte já fotografei!!) se não fossem vós trazerem a notícia da Flora Ibérica ..de que Não! Não!
Obrigado pelos crescentes rectificativos que vou fazendo,imitando o que por cá se faz com as leis!!!
Foram as Linárias que primeiro se me espetaram nos olhos para 'perseguir as plantas'!! mas reconheço que ainda não fiz o que queria e que aqui vocês indicam: ir até ao sul de Espanha (como na Serra de Mijas!) e fotografar uma boa dezena delas, de cores espantosas; planeio,planeio e chego a Março e acabo por não ir.
Um dia, um ano será!
Obrigado e abraço
Carlos M. Silva
Olá Carlos.
É verdade: embora nós não sejamos exactamente pobres em linárias, os espanhóis têm muitas mais. Mas até no sul de Portugal há várias espécies que ainda não vimos.
Abraço,
Paulo
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