13/07/2012

Ribeira das graças

Gratiola linifolia Vahl



Segundo a Flora Digital de Portugal, esta planta ocorre em quase o território continental, com excepção da porção mais ocidental do centro e sul. Estranha-se tal distribuição: sendo assim tão disseminada, como é que nos tinha até agora escapado? Certo é que ela precisa de um solo encharcado, ou mesmo da proximidade de um riacho com água doce e fresca, onde mergulhe as raízes e os caules roliços, e este tipo de habitat impoluto já é por cá pouco frequente. Na tese de Paulo Silveira (A flora da serra do Açor, Guineana 13, 2007) lê-se que Coutinho cita, em 1906, um espécime para a serra da Pampilhosa que nunca mais ninguém encontrou «apesar das muitas prospecções de leitos de rios e ribeiras». Porém, o estudo a partir de material de herbário por I. Soriano e T. Romero (Sobre el género Gratiola L. en el norte de Marruecos y Andalucía, Lagascalia 28, 2008), que ajudou a estabelecer que a G. linifolia L. é um endemismo ibérico (do centro-oeste e sudoeste da Península), assevera que as populações da dedaleira-menor não estão em declínio. Infelizmente isso não nos tranquiliza, pois esta é uma avaliação para uma área vasta de distribuição da planta, tem já quatro anos e talvez não tenha considerado populações portuguesas.

Encontrámos os exemplares das fotos nas margens de um fiozinho de água que já foi uma ribeira brava com uma ponte de cor ocre, necessária mesmo no Verão. A construção de uma albufeira a montante amansou-a e quase a secou, servindo o actual lago para manter uma plataforma de plástico onde se estendem os veraneantes. Apesar disso, aumentou o número de pontes para se trocar de margem: ao muro feio da albufeira (que divide dois mundos, um com muita água parada e outro com um arroio em cujas bermas vive esta Gratiola) soma-se uma oscilante ponte de borracha, a lembrar equipamento de parque infantil. Eis uma estância demasiado artificial para abrigar preciosidades, pensámos ao chegar. Engano nosso, e ainda bem.

O género Gratiola contém cerca de vinte espécies quase todas nativas da América do Norte e de montanhas tropicais. Em Portugal (na Península Ibérica e em boa parte da Europa) ocorre outra espécie, a G. officinalis, que parece restringir-se à metade norte do país e que se distingue facilmente desta: essencialmente, a G. linifolia tem menor porte (não costuma crescer mais de 40 cm) e é menos glabra. São ambas herbáceas perenes com floração estival, de folhas opostas e flores solitárias, corolas com cerca de 15 mm de diâmetro, cinco sépalas (além de duas pequenas brácteas) e cinco pétalas unidas num tubo de garganta amarela e corcunda (a designação dedal-de-portuguesa que a Flora Ibérica menciona parece algo injuriosa). O fruto, que ainda não vimos, é uma cápsula com muitas sementes.

2 comentários :

Carlos M. Silva disse...

Olá
Espantoso!
As preciosidades que encontram e que tão interessante família (ou aglomerado de famílias!,diria eu!, leigo que sou!)contempla.
Quanta coisa anda por aí nos sítios mais recônditos!
Carlos M. Silva

Maria Carvalho disse...

O mérito é dos ribeirinhos de água limpa. Nós só precisamos de estar atentos.