09/10/2012

Leopardo verde

Silybum marianum (L.) Gaertn.


Quando uma planta sem eira nem beira tem nome em quase todas as línguas, é garantido que ela nos andou a tratar da saúde. As sementes do cardo-leiteiro ou cardo-de-Santa-Maria (milk thistle em inglês, chardon-Marie em francês, cardo mariano em italiano e em espanhol, Mariendistel em alemão) têm a reputação, firmada ao longo de séculos, de serem eficazes contra as doenças do fígado e da bexiga, e úteis como antídoto em caso de envenenamento. Como bónus, as folhas e hastes da planta são comestíveis em salada enquanto tenras. Se a isto somarmos a beleza da inflorescência e das folhas marmoreadas de verde e branco, não surpreende que o Silybum marianum tenha sido amplamente cultivado desde a antiguidade e, nativo do sul da Europa, se tenha espalhado pelos quatro cantos do mundo. Fê-lo de modo tão aguerrido que na Austrália e na Nova Zelândia é tido como invasor pernicioso.

Nesta época de racionalismo científico não há santo que esteja seguro no seu altar. As virtudes das plantas ditas medicinais são postas em dúvida; e, mesmo quando o seu valor terapêutico é reconhecido, considera-se preferível, a bem da economia global, que elas sejam vendidas pela indústria farmacêutica sob a forma de comprimidos com a dosagem correcta. Os ensaios clínicos com o Silybum marianum, porém, além de não lhe confirmarem a reputação medicinal, alertaram ainda para efeitos secundários indesejáveis. Parece, portanto, que a planta se irá manter nas franjas dúbias da medicina e não fará a transição dos ervanários para as farmácias.

Em Portugal, onde o cardo-de-Santa-Maria é espontâneo no continente e introduzido nas ilhas, a sua presença é cada vez mais esporádica. No Minho e Douro Litoral converteu-se numa raridade. No interior transmontano, beneficiando do abandono agrícola e de um uso menos obsessivo dos agro-químicos, ainda se vai vendo ocasionalmente. Muito antes de lhe conhecermos as inflorescências, já encontráramos no vale do Tua a grande roseta de folhas raiadas de branco a que se reduz durante o Inverno, mas foi só em Macedo de Cavaleiros, nos baldios e terrenos de má fama da sua predilecção, que o vimos em flor.

3 comentários :

Carlos M. Silva disse...

Olá Paulo (e Maria)
Esta flor, a flor, nunca a vi mas o arranjo de folhas acho que já!
Pergunta: é o único com esta aparência ou ..afinal há outro(s)?!
Na minha saudosa viagem do Douro a Montesinho, em 2009,parei no espantoso e quase mágico Castelo de Algoso e vi(?) lá isto(?).
Claro que nem será preciso dizer que tenho as fotos com outro nome!!! Errado pois com certeza!
Abraços
Carlos M. Silva

Paulo Araújo disse...

Olá Carlos.
Suponho que na nossa flora não há nenhuma outra planta cujas folhas se possam confundir com as desta. E a tua experiência parece confirmar que ela, pelo menos por cá, poucas vezes se deixa ver em flor.
Abraço,
Paulo

Carlos M. Silva disse...

Olá
Sim, em 01/Mai/2009 nada de flor.
Mas pelas folhas só pode ser este; um obrigado mais pela identificação pois que lhe havia dado um nome de Carduus pycnocephalus!!! Coisas talvez e um livrito de bolso da flora mediterrânica! Mas já nem disso lembro bem!
Cumprimentos e obrigado.
NOTA: um destes dias tenho que pesquisar aqui nas v/ etiquetas um 'cardo'!! que parece uma 'tronchuda' que fotografei no rio Angueira.
Carlos M. Silva