01/11/2012

Entre marés

Quem pretende morar na fronteira entre terra e mar, onde o sal fino é uma segunda pele e o chão foge a cada recuo das ondas, ou é inerte como um seixo ou tem que ser versátil como um pirata. Essa parece ser uma das qualidades das plantas do género Suaeda, cujo habitat, sapais e marismas, raramente está calmo e enxuto. As folhas, sésseis e com aspecto farinhento, são suculentas, o que é comum nas plantas que vicejam à beira-mar; as raízes são longas, permitindo que a planta se segure num solo arenoso e sugue água doce num meio misto onde abunda a água salgada. E as espécies deste género revelam algum polimorfismo, sinal de oportunas adaptações ao ambiente.

A S. albescens (amiúde confundida com a Suaeda maritima (L.) Dumort.) é uma herbácea anual de hábito prostrado, esporádica em areais marinhos do Algarve ao Minho. As folhas são metades de cilindro com cerca de 3 centímetros de comprimento e ponta aguçada, que começam por dispor-se em roseta e depois se eriçam num arbusto descabelado. As flores, de Verão, são verdes, hermafroditas ou femininas, e agrupam-se em glomérulos lassos nas axilas das folhas.

Suaeda albescens Lázaro Ibiza


A S. vera, a que o povo chama valverde-dos-sapais, é perene e lenhosa, e cresce muito mais que a espécie anterior. As suas flores, igualmente minúsculas (cerca de 1 milímetro de diâmetro), agrupam-se às dúzias, protegidas por uma bráctea grande e várias bractéolas; os frutos são utrículos com uma semente. Diz-se que, em tempos idos, era queimada para se retirar das cinzas um carbonato de sódio usado no fabrico de vidro. É nativa da região mediterrânica e da costa atlântica norte até Inglaterra e, por cá, segundo a Flora Ibérica, ocorre no Algarve, Baixo Alentejo e Estremadura. Contudo, o exemplar das fotos mora no estuário do Lima, em Darque, Viana do Castelo. Com sorte, é um recém-chegado da Galiza e trouxe consigo a sua fantástica parasita, a Cistanche phelypaea.

Suaeda vera Forssk. ex J. F. Gmel
Das cerca de cem espécies do género Suaeda, a Flora-On dá conta de quatro em Portugal (além das anteriores, também a S. spicata (Willd.) Moq. e a S. splendens (Pourr) Gren & Godr.). Porém, a designação da primeira não é consensual entre os taxonomistas, e a Flora Ibérica não a regista em Portugal. Por isso também neste âmbito poderão estar para breve novos cortes.

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