01/10/2013

Caudas-de-andorinha

Vincetoxicum nigrum (L.) Moench


São as folhas e os frutos desta planta que fazem lembrar as andorinhas. As folhas são ovais, de ponta aguçada; os frutos são longos fusos acastanhados — há quem assevere que abrem qualquer porta. Ambos se agrupam frequentemente aos pares em posição que lembra as penas da cauda daqueles pássaros em voo.

As flores em estrela minúsculas nascem em cimeiras e os lóbulos triangulares exibem um tom púrpura quase negro que é pouco usual. Abrem de manhã e permanecem disponíveis para os polinizadores durante aproximadamente sete dias, o tempo de esgotarem o pote de aroma forte com que os atraem. Têm um sistema misto de reprodução, coexistindo frutos que resultam de auto-polinização com outros de polinização cruzada. Não são exigentes, qualquer mosquinha lhes parece servir como polinizador, mas alguns estudos mostram que é usual a presença de um insecto que, como um porteiro, defende as flores dos intrusos alados que roubam néctar mas não transportam pólen.

Para premiar uma busca demorada, este ano encontrámos, nas margens ensombradas do rio Minho, em zonas pedregosas e de bosque, várias populações abundantemente floridas desta espécie, que é nativa do sudoeste da Europa. Para nos poupar outra visita, alguns pés mostravam já frutos. As sementes têm uma asinha e um paraquedas porque é o vento que as dissemina, e devem estar agora a espalhar-se. Cumprida esta tarefa, a planta hiberna e só ressurge na Primavera.

Na Península Ibérica ocorre outra espécie do mesmo género, também perene e rizomatosa, que, embora aprecie um habitat eurosiberiano semelhante, é mais rara que a das fotos e não tem hábito tão notório de trepadeira. Há registo da presença dela no Gerês, onde a veremos em Junho do próximo ano, e também na Beira Alta e no Alto Alentejo. Até lá, o leitor fará o favor de pintar as pétalas destas fotos com tinta verde, a coroa de dentinhos ao centro de amarelo e de aclarar um pouco a folhagem: terá desse modo uma ideia de como é o Vincetoxicum hirundinaria. Ou, preferindo, poderá visitar esta página do portal Flora-on.

3 comentários :

Carlos M. Silva disse...

Olá Maria
Espantosa planta que nunca vi.
Lembro de em Jul/2011, o Alexandre/CISE me ter levado (com outros) num passeio e caminhada pela S. Estrela e cujo início foi na Pte. Jugais; e aí por quê? por que de facto, também aí habita esta planta; e sim, estava por lá; infelizmente não estava em flor e como aqui dizem e ele nos referira, a cor pouco usual das flores era o estranho a ver. Se bem me lembro (à Nemésio ..) do que nos indicou acho que há um Lepidóptero nocturno (um Noctuidae) que de facto parece alimentar-se desta planta, que creio que por cá será uma chamada Abrostola asclepiadis, de que apenas vi, até agora, uma das 3 espécies 'irmã'! E como noutros casos ..integrará na sua fase larvar ..alguns dos componentes tóxicos desta planta!

Obrigado e abraço.
Carlos M. Silva

Maria Carvalho disse...

Olá. Lepidóptero esperto, esse: assim (vince)tóxico, ninguém lhe toca enquanto é frágil e mole de comer.

bea disse...

Maravilho com estes prodígios naturais. Obrigada.