26/09/2015

Cabeça de plumas


Pterocephalidium diandrum (Lag.) G. López


Se não estivesse em flor, talvez não reparássemos nestas plantas quando nos cruzámos com elas em Vinhais ao seguirmos por um caminho de terra solta e taludes de xisto. Já a tínhamos visto aqui, e até foi uma surpresa que as inflorescências, que nas fotos parecem grandes, fossem afinal diminutas quando comparadas com a altura da haste (uns 70 centímetros). O que chama a nossa atenção de imediato é a penugem a proteger o capítulo de flores (com corolas pequenas de cor violácea), as brácteas ciliadas, e os dois tipos bizarros de aristas nos cálices.

Para que servirão estes apêndices que persistem nos frutos e a nós quase parecem ameaçadores? É provável que impeçam a acção de predadores e ajudem à disseminação dos frutos. Mas talvez tenham também a função de atrair polinizadores especializados nestas flores, beneficiando-os relativamente aos polinizadores generalistas. Esta diferença é importante. É verdade que haver muitas visitas de diferentes polinizadores aumenta a probabilidade de ocorrer a fecundação. Porém, também é plausível que um polinizador generalista, que é inconstante na escolha das flores onde poisa ou recolhe o néctar, transporte pólen de várias espécies e, desse modo, não deposite o pólen adequado na flor certa. O desperdício de pólen e de área no estigma se as abelhas ou formigas lá colocam pólen não compatível, impedindo sistematicamente a fecundação, pode condenar uma população pequena de uma espécie a ficar à mercê do acaso. Por isso, é vantajoso que as flores formem capítulos vistosos e densos (como é comum nas asteráceas e dipsacáceas), onde os polinizadores se demorem como num jantar gourmet; e lucrativo que as populações formem agregados cerrados, com pouco espaço para a presença de espécies competidoras, as tais que distraem os polinizadores e provocam a mistura inconveniente de pólenes.

Esta é uma herbácea anual com uma distribuição vasta em Espanha, e os registos nacionais também são animadores. Em 1805, Lagasca designou-a Scabiosa diandra. O género Pterocephalidium (que alude às tais praganas curvadas nas inflorescências) é recente (proposto por López Gonzalez em 1987), monoespecífico e endémico da Penísnsula Ibérica. O epíteto diandrum refere-se ao par de estames em cada flor (que se podem ver na antepenúltima foto). Não se lhe conhece nome comum, seja em português ou em espanhol.

3 comentários :

ZG disse...

Mais uma beldade inesquecível!!

Rafael Carvalho disse...

O que me diz do inseto-pau presente na segunda foto?
Cuprimentos.

Maria Carvalho disse...

É um insecto engraçado, o oposto das borboletas quanto à boa aparência e à galhardia. Lemos que é de um género que, além de engenhoso a dissimular-se, descobriu alguns estratagemas espertos para proteger os ovos e crias.