Salsa-brava
O leitor vai hoje acompanhar-nos num percurso pelo rio Mente, na fronteira de Chaves com Vinhais. É Verão e o rio atravessa-se bem a pé, a água mal cobre os calcanhares. São pouco mais de seis passos largos, o riacho vai ali quase enxuto, mas as pedras limosas do leito obrigam-nos a caminhar com cautela. No lado de Chaves, a limpeza da margem foi tão metódica que quase não sobra vegetação; em contrapartida, ali se banham e petiscam animadamente muitos flavienses no seu descanso de Agosto. Regressemos, por isso, à margem de Vinhais, onde a vegetação é exuberante e nos reserva inúmeras surpresas.
No leito de cheia, que é também orla de um bosque, está esta herbácea perene:
Peucedanum gallicum Latourr.
O que acha que é? Pela inflorescência, não há dúvida de que pertence à família Umbelliferae (para alguns Apiaceae). A folhagem lembra a do Peucedanum lancifolium, embora as deste sejam em geral menos divididas. E, portanto, ousamos afirmar que também o género está encontrado: Peucedanum. E a espécie? Ainda antes de ler a chave da Flora Ibérica ou a do primeiro volume da Nova Flora de Portugal, notemos que a umbela da terceira foto é densa, airosa e simétrica, como um guarda-chuva sem defeito. Pelo contrário, a do outro Peucedanum que conhecemos de prados húmidos e sombrios, o P. lancifolioum, é mais rala e deselegante, com os raios (os pés das flores, quais varas de guarda-chuva) encavalitados e de tamanhos distintos. Há ainda dois outros pormenores que indicam que o Peucedanum que hoje aqui mostramos não é o P. lancifolium: as bractéolas (brácteas na base das umbélulas — veja na última foto) são muito longas e finas, em contraste com as do P. lancifolium; e as brácteas involucrais (na base da umbela), que aqui quase não se vêem nas fotos porque são caducas, persistem na maturação dos frutos do P. lancifolium.
São poucos indícios, é certo, e por cá há registo de cinco espécies de Peucedanum, mas a ecologia ou o tipo de solo que requerem não são idênticos. Confrontadas as tais chaves das Floras, concluímos que se trata do Peucedanum gallicum (que já foi P. parisiense), nativo do noroeste da Península Ibérica e de França.
Antes de arrumar a máquina fotográfica na mochila e de subir a encosta até à estrada, reparemos que as pétalas (em detalhe na quarta foto) lembram porta-guardanapos (aqueles utensílios de mesa em forma de anel, hoje quase esquecidos, usados para colocar guardanapos individuais de pano) cujo tom rosado resiste caprichosamente nos frutos.
1 comentário :
Lindas, em sua beleza raiada.
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