Pseudocenoura de Sicó
Orlaya daucoides (L.) Greuter
As umbelíferas com inflorescências como as da cenoura (Daucus carota) são difíceis de destrinçar, e esse problema não deve ser só nosso. Decerto também os polinizadores se apercebem de que as umbelas são semelhantes, e hesitam na planta a escolher. A menos que o néctar (que, quando provámos, sabia a água com açúcar) tenha variações de sabor, aroma e nutrientes que os insectos detectem, ajudando-os a seleccionar as flores que mais apreciam. Na eventual falta destes pormenores que sinalizem as flores mais apetecíveis, e de cuja existência não conhecemos qualquer prova, há ainda as espécies que, além de investirem numa inflorescência repleta de flores, a aumentam alterando as pétalas das flores externas para que fiquem mais vistosas.
É precisamente esse o estratagema da planta que está hoje na montra, fotografada num bosque de azinheiras e carvalhos em Sicó: exibe airosas pétalas bilobadas no bordo da umbela, como orelhas de cachorro, que nenhum polinizador minimamente atento deixará de avistar, mesmo de longe. Trata-se da única espécie do género Orlaya nativa em Portugal, apesar de em Espanha ocorrer outra, a O. grandiflora. O nome do género homenageia Ivan Semenovych Orlay (1771-1829), médico e botânico ucraniano.
É uma planta anual, de distribuição ampla na região mediterrânica e na Ásia, que se distingue bem de alguns parentes pela folhagem. Sugerimos ao leitor que observe os talos estriados e as umbelas terminais, recheadas de flores masculinas além de umas poucas hermafroditas. (Pode tentar localizá-las na 3ª foto — onde também se vê emboscada uma ameaçadora aranha-caranguejo, Thomisus onustus — ou nesta imagem.) Os frutos têm uma forma bizarra, lembrando espigas verdes com ganchos no lugar dos grãos de milho.
Sicó
1 comentário :
Acho-a linda em seu estratagema de ser vista. E quem sabe se não existe também no montado alentejano...
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