Madressilva dos ossos
Ensina o Stearn's Dictionary of Plant Names for Gardeners que xylosteum deriva das palavras gregas xylos, que significa madeira, e osteon, que significa osso. Quereria Lineu dizer que esta madressilva tinha ossos de madeira? Estaríamos então perante nova amostra do pioneirismo do pai da taxonomia, pois o boneco Pinóquio só foi criado por Gepeto cem anos mais tarde. Confessamos, no entanto, que a expressão "ossos de madeira" nos parece uma redundância quando aplicada a árvores ou arbustos. Afinal, se admitirmos, num rasgo de fantasia, que tais criaturas vegetais são providas de ossos, de que outro material poderiam eles ser feitos? Talvez invertendo a ordem das palavras, traduzindo xylosteum por "madeira de osso" em vez de "ossos de madeira", a coisa fique mais inteligível. Terá este arbusto uma madeira especialmente resistente, rija como os ossos? É que, ao contrário das madressilvas espontâneas em Portugal, a Lonicera xylosteum, que fotografámos na Cantábria, não é uma trepadeira, mantendo-se de espinha erguida sem o apoio de muletas. Não é esta porém, nem na Europa nem na Península Ibérica, a única madressilva de porte erecto, como Lineu, que deu nome a três outras espécies arbustivas do género (Lonicera alpigena, L. pyrenaica e L. nigra), não poderia deixar de saber. Põe-se então a hipótese de a Lonicera xylosteum ser, das quatro madressilvas arbustivas baptizadas por Lineu, aquela cuja madeira é a mais dura de roer. O que infelizmente não é verdade, pois os seus caules são ocos e os da L. nigra, por exemplo, são maciços. Ainda que se possa alegar que os ossos, apesar de rijos, também costumam ser ocos, isso é já muito rebuscado e leva-nos, por ora, a desisitir de entender Lineu.
As madressilvas dão flores muito perfumadas, atraem multidões de insectos e, por altura da frutificação, são avidamente visitadas pelos pássaros. Jardineiro que lhes dê espaço no seu jardim transforma-se de imediato num amigo da natureza. Apesar de o tamanho modesto das suas flores poder desencorajar o cultivo, a Lonicera xylosteum partilha de todas as boas qualidades das suas congéneres, com a vantagem de o seu hábito de crescimento se prestar à formação de sebes. É um arbusto que atinge 1 a 1,5 metros de altura, e cuja floração e frutificação decorrem entre Maio e Agosto. Nativo de grande parte da Europa, vive em clareiras de bosques caducifólios húmidos, sobre substratos básicos, em zonas de montanha.