09/12/2018

Salepeira-não-tão-grande

Por esta altura do ano já se podem observar, na região calcária do centro do país, rosetas de folhas e até um tímido início da haste floral da Barlia robertiana. Entre Janeiro e Fevereiro, a floração desta orquídea robusta e muito vistosa estará no auge. Quase simultaneamente, uma espécie de orquídea muito parecida com a B. robertiana interrompe o seu período de hibernação nas ilhas Canárias. O que nos leva a desconfiar que esse momento para iniciar a floração é uma informação genética herdada de um progenitor comum.


Himantoglossum metlesicsianum (W. P. Teschner) P. Delforge [sinónimo: Barlia metlesicsiana W. P. Teschner]


A Barlia metlesicsiana é endémica de Tenerife e vive em zonas pedregosas onde os escombros de lava foram suficientemente erodidos para daí resultar um solo macio, firme embora seco, que consegue sustentar alguma vegetação. Apesar de ter um substrato ácido, é talvez o habitat mais parecido com os matos rasteiros, mas soalheiros e abrigados de intempéries, que estas orquídeas preferem na região mediterrânea. Os poucos exemplares que vimos desta orquídea muito rara estavam perto de Santiago del Teide, numa zona protegida onde vários avisos requerem dos visitantes o respeito escrupuloso pelas normas de conservação.



Da evolução isolada na ilha de Tenerife, resultaram algumas pequenas diferenças entre a B. robertiana e a B. metlesicsiana, sendo a espécie tenerifenha em geral mais baixa e de aspecto mais frágil, com uma roseta basal de folhas menos robusta, uma haste floral com duas a quatro folhas caulinares que parecem brácteas, e uma inflorescência menos densa. O epíteto específico metlesicsiana é uma homenagem de Walter Paul Teschner, que descreveu esta espécie em 1982, ao botânico austríaco Hans Metlesics (1900-1985).

A designação mais antiga para o género a que estas orquídeas pertencem é Himantoglossum. Por causa disso, e apesar de o basiónimo ser Barlia metlesicsiana, Pierre Delforge propôs em 1999 que esta espécie se designasse Himantoglossum metlesicsianum, e que a sua irmã continental passasse a ser Himantoglossum robertianum. A mudança foi aceite pelo portal Euro+Med PlantBase mas não (ainda?) pela Flora Ibérica ou pela Flora-On.

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