Ervas do Fresno
Miranda do Douro tem um rio. Não, não é aquele rio das arribas vertiginosas que vem de longe e vai para longe, e que, por ser o rio de muitas terras, afinal não é de nenhuma. Falamos do Fresno, um rio maneirinho que faz todo o seu percurso de 15 km no concelho de Miranda, e que só não se chama ribeira porque rio é título honorífico e num planalto de pouca chuva todos os cursos de água merecem ser festejados. As gentes de Miranda gostam tanto do Fresno que à sua passagem pela cidade o enfeitaram com um repuxo e fizeram das suas margens um parque urbano. Refreando a vontade suicidária das (escassas) águas de se lançarem, de um desnível de 150 metros, no leito amansado do Douro, construíram-lhe represas e engordaram-no com espelhos de água. Assim disfarçarm também a secura que aflige o rio todos os verões, quando a vida se suspende à espera das chuvas de Outono.
Porque preferimos um rio menos ataviado de enfeites, não passeámos no Parque Urbano do Fresno. Em vez disso, fomos para montante, com paragens em Palancar e em Ifanes, para espreitar as ervas que boiavam na água ou se escondiam nas margens entre salgueiros e freixos. As chuvas da Primavera, que tinham sido regulares, ainda permitiam no final de Junho que o caudal se apresentasse nutrido. Seria por pouco tempo, garantiu-nos alguém que colhia couves num quintal à beira-rio. Mais duas semanas e as ervas do Fresno que se mostravam tão frescas estariam todas secas: juncos e ciperáceas, gramíneas, ervas-salgueiras, tábuas, ranúnculos, alismatáceas, miosótis e muitas plantas mais, todas na urgência de florir e frutificar antes de serem vencidas pela estiagem.
Uma das gramíneas que crescia nas águas do Fresno destacava-se, apesar da modesta altura (não mais que 20 cm), pelas espigas compactas salpicadas com o cor-de-laranja das anteras. Por não precisarem de atrair polinizadores, é raro as gramíneas ostentarem cores vistosas. Tanto assim é que o detalhe colorido nos revelou, sem sombra de dúvida, a identidade dessa gramínea do Fresno. Trata-se da Alopecurus aequalis, planta cuja ampla distribuição abrange os três continentes do hemisfério norte, mas que é escassa em Portugal, onde aparece sobretudo no quadrante nordeste.
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