27/09/2020

Charcos, colheres e cardos


As plantas do género Eryngium são umbelíferas bastante invulgares, e não apenas por terem folhagem e inflorescências espinhosas. A maioria prefere sítios secos, em clareiras com solo pedregoso ou arenoso. Umas poucas, porém, colonizam charcos temporários, dos que se enchem no Inverno mas quase esvaziam no Verão provocando grande aflição em rãs e libelinhas. São espécies raras em Portugal pois temos sido bastante descuidados com este tipo de habitat.

Em solos de natureza assim híbrida, as plantas precisam de se proteger dos efeitos menos benéficos do excesso de água durante quase todo o ano, para depois se preocuparem com a falta dela no tempo muito quente. É o caso das plantas da espécie E. corniculatum, que vimos em Miranda do Douro e de que há outros núcleos dispersos mais a sul do país. São herbáceas erectas, com cerca de 50 cm de altura, que vivem em duas fases: na época das chuvas, as folhas, que parecem colheres mergulhadas em pé num lago, são ocas e caducas; as superiores tornam-se rígidas, dentadas e espinhosas quando o charco começa a secar. No arranjo destes apêndices, sobram uma ou várias brácteas longas a encimar as inflorescências, os tais chifres a que alude o epíteto específico.



Eryngium corniculatum Lam.



Há registo desta espécie em Espanha, Sardenha e Marrocos (aqui constando da lista de espécies protegidas), quase sempre em populações pequenas e em ambientes sujeitos a vários perigos, um risco acrescido para plantas anuais ou bienais como estas. Antes de fechar esta página, atente na disposição densa das flores. Por entre as brácteas a rodear cada capítulo e as bractéolas a envolver cada flor, notam-se pétalas em tons de azul bastante recurvadas a proteger os estames, e sépalas de margens membranáceas. No sul, chamam-lhes cardos-de-bicos-azuis.

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