Erva magra
Estamos em 2009, e nos jornais britânicos lê-se uma notícia inusitada. Em Gloucestershire, alguém teria dado conta de uma planta pequenina de flores cor-de-rosa junto aos edifícios de um condomínio de luxo e, não a conseguindo identificar, entendeu por bem informar-se, não fosse dar-se o caso de ser uma espécie rara; depois de identificada e atestada a sua importância, os proprietários do local decidiram proteger a planta, garantindo desse modo que as sementes não se perderiam e formariam uma colónia sob a sua vigilância. Tudo isto parece inventado, não? Nós estamos habituados a outra realidade: à construção em áreas protegidas em prol do «interesse nacional», ao encolher de ombros face a recomendações de estudos de impacto ambiental, ao uso intensivo dos solos sem consideração pelo equilíbrio dos habitats, à sistemática falta de verbas para programas de conservação urgentes. Três anos depois, a BBC News dava conta da ocorrência de vários núcleos desta planta no sudeste de Inglaterra, admitindo-se que as suas populações estariam a recuperar com as medidas de prospecção e protecção em curso.
A tal planta afortunada, red hemp-nettle em inglês, pertence ao género Galeopsis: é a espécie Galeopsis angustifolia. No Reino Unido tem a companhia de mais duas espécies nativas, a G. speciosa, que cresce nas margens mais ou menos turfosas de parcelas cultivadas, e a G. tetrahit, que também ocorre em Portugal, aprecia a sombra e a frescura das orlas de bosques, e conhecemos da serra do Gerês e das terras de Barroso.
A Galeopsis-de-folhas-estreitas, que vimos em Peña Oroel e em Ordesa, nos Pirenéus, é uma herbácea frágil com folhas dentadas, talos pubescentes, e flores de tubos alongados. Ao contrário das espécies anteriores, adaptou-se a locais abertos com solo cascalhento, em zonas montanhosas ou costeiras, preferindo substratos calcários. Contudo, a floração é essencialmente outonal, e em terrenos cultivados tende a ser destruída sem formar sementes, ou a desaparecer sob o efeito de fertilizantes ou herbicidas. Este, sim, é um retrato da natureza em perigo que reconhecemos.
3 comentários :
Há países onde as plantas e as árvores são notícia! Gostei de saber.
Abraços de Primavera, esperando que vos dê a vontade/oportunidade de sair para aqueles lugares onde os vossos olhos meditam sobre a natureza das coisas.
Es una flor bonita. Saludos.
Hoje fui à Quinta Vilar de Matos, Junqueira, que muito amavelmente nos abriu as portas para passear entre camélias. Andou-se à vontade e sozinhos. É perto e bom caminho, fácil para abrir este vácuo de verdes e terras. Lembrei-me de vós porque havia tanta e tanta flor pequena, ervas rasteiras, clareiras com tantos fetos diferentes, botões a despontar...
Abçs
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