Sem medo das alturas
No instante em que se inventou a fotografia, não foram só a ciência, a tecnologia, a arte e a nossa memória que se agigantaram. O mundo deixou de ser sempre a cores. E decerto muitos começaram a sonhar a preto e branco. Durante cerca de quatro décadas, a fotografia guardou apenas contrastes em imagens sem profundidade, incapaz de memorizar a realidade na íntegra. Nas fotos mais antigas, as famílias amontoadas como migalhas de pão parecem-nos irreais de tão imóveis e tão sem volume. Apesar do entusiasmo da novidade, continuava a ser mais fácil descrever um rouxinol por palavras, ou fantasiado numa tela de pintura, do que registá-lo em voo com uma máquina fotográfica. Tudo mudou anos depois, e o cinema deu a estocada final no descrédito. E, no entanto, a tendência de hoje é outra. A realidade tem agora pouco interesse, e o acto outrora breve de fotografar ganhou uma nova função: aprimorar o mundo, mentindo se necessário, evitando-se a mera cópia do que existe ou acontece. A edição da fotografia, por vezes eliminando as cores, com fins artísticos ou para aperfeiçoar a verdade, tem criado um mundo alternativo que, no entender de muitos, substitui com vantagem o real. E ainda há quem estranhe que o universo esteja em expansão.
Se às fotos destas violetas endémicas da serra Nevada fossem retiradas as cores, não saberíamos de que espécie se tratava. Poderiam ser exemplares de Viola langeana, que ocorre nas serras da Estrela, Malcata e Homem de Pedra, e cujas flores são integralmente amarelas; ou da Viola diversifolia, dos Pirenéus, com flores inteiramente roxas. As flores da V. crassiuscula, em numerosos talos, combinam o violeta, o rosa e o branco, e cada planta não excede os 15 cm de altura. Vive adaptada a solos soltos acima dos 2000 metros de altitude, em fissuras de rochas e cascalheiras, com a raiz bem enterrada para que um deslize de pedras ou uma ventania forte não a condenem. É uma espécie rara, listada no livro vermelho da flora da Andaluzia.
1 comentário :
Gostei imenso da foto número 2!
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