14/09/2005

Reabertura do Jardim do Carregal

Alvo de um bem sucedido projecto de recuperação, o Jardim do Carregal foi ontem reaberto ao público, conforme dá conta a desenvolvida reportagem publicada na página da Câmara. Na véspera, enviei por email ao vereador do Ambiente algumas sugestões que ajudariam a tornar o jardim ainda melhor. Transcrevo na íntegra essa carta, com a promessa de divulgar aqui a resposta se ela for pertinente:

«Caro Eng. Rui Sá:

Como morador que sou da zona do Carregal, tenho acompanhado com entusiasmo a recuperação do jardim. Foram seis anos de maus tratos de que finalmente a Câmara se começa a redimir. Esperemos que não tardem também recuperações condignas do Campo 24 de Agosto e do Jardim do Marquês.

No que toca ao Jardim do Carregal, tenho a assinalar coisas boas e outras menos boas - mas que ainda se podem corrigir parcialmente.

Coisas boas:

- a demolição da casa, que além de feia era um corpo estranho no jardim e não permitia a reconstituição do percurso à volta do lago;

- a presença de canteiros floridos;

- o respeito pelo desenho original do jardim;

- os caminhos pavimentados com uma cobertura permeável;

- a vegetação variada em volta do lago.

Coisas menos boas:

- as zonas que ficam só com relva e sem qualquer sebe ou outra protecção (convite óbvio ao uso como sanitário pelos muitos cães da zona);

- os bancos de granito sem encosto (parece estar em curso no Porto uma conspiração, iniciada na Cordoaria, para impedir que os cidadãos possam descansar confortavelmente nos jardins públicos).

É claro que a primeira objecção ainda pode ser sanada. Não entendo, por exemplo, que no local deixado vago pela demolição da casa não se tenha plantado sequer um arbusto. Plantem-se camélias (esse símbolo da cidade vergonhosamente proscrito da Cordoaria), magnólias, azereiros, medronheiros: pequenos arbustos que não criem uma barreira visual mas dêm mais cor e vida ao jardim, e compensem em parte as árvores que ele perdeu durante as obras.

Saudações cordiais,
Paulo Ventura Araújo»

17 comentários :

ManuelaDLRamos disse...

;-) No outro dia contornei o jardim (estava de carro); ainda estava vedado (caso contrário teria parado) mas fiquei deliciada com a cor: das flores e dos caminhos.
Li a reportagem no site câmara mas estou com dúvidas sobre a Agathis. Afinal sobreviveu?

ManuelaDLRamos disse...

"O espaço verde retorna à sua traça original" declara O Primeiro de Janeiro. E no outro espaço , senhores? A a traça não é importante? só o traço? Haja coerência! Haja respeito também aí pelo património. Façam praças com traço contemporâneo noutros locais!

Paulo Araújo disse...

Pois é, a Agathis estava em muito mau estado, com a folhagem quase toda seca, e parecia não ter salvação. Fizeram-lhe uma poda de emergência, não ficou nada bonita, mas tudo indica que se vai aguentar, pois estão a rebentar folhas novas.

Anónimo disse...

Boas notícias para a cidade! ;)

Anónimo disse...

Qual é o problema de se pisar a relva? Essa ideia de colocar uma jaula à frente de cada espaço verde é uma coisa muito portuguesa. O que faz falta é gente deitada na relva à hora de almoço. Os parques e os jardins sempre foram melhores que os canteiros. Não é o "respeito" pelos espaços verdes aquilo que se tem de conquistar para as nossas cidades. O que se tem é de torná-los menos "sagrados" e mais próximos da nossa natureza de gente (que também é algo que se deve preservar, convém não esquecer).

Paulo Araújo disse...

Não tenho problema nenhum em que se pise a relva, e até acho que ela não serve para outra coisa. O que acontece é que, num jardim de acesso livre como este, não tardará que ela esteja conspurcada por cães e imprópria para qualquer uso (como seja o do prazer inocente de nos deitarmos nela). Outra questão é a do valor da relva como elemento preponderante de um jardim. Aí tenho sérias reservas: a relva não me encanta os sentidos, prefiro ver arbustos e flores; ao contrário das árvores e dos arbustos, a relva não contribui para a melhoria do ar que respiramos; finalmente, consome muito água (e a rega constante pode provocar podridões em plantas sem as mesmas necessidades de água).

Maria Carvalho disse...

Há mais dois problemas no uso excessivo de relva:
1) precisa de ser cortada regularmente e renovada sempre que um excesso ou defeito de rega provoque uma "carecada" no relvado;
2) a relva, sob condições favoráveis, tem tendência a invadir o espaço das outras plantas; e o diâmetro de protecção que cada árvore deve ter só seu (que não foi acautelado no Jardim do Carregal) é desrespeitado pela relva se ela não for aparada frequentemente.

Esta manutenção é cara e não é necessária se em vez de relva se usarem mais árvores ou arbustos como os aqui sugeridos. As sonecas talvez saiam prejudicadas, mas o ganho global é maior.

ManuelaDLRamos disse...

Regar com água? That's old-fashion!
"Liquid gold" é o que está a dar.
Pelo menos é o que advoga estesite/livro. Via Sargaçal...;-)

Anónimo disse...

Discordo da ideia de que num "jardim de acesso livre como este, não tardará que ela [a relva] esteja conspurcada por cães". Primerio, a ideia de jardim "não-livre" é algo que só me parece aceitável se as espécies nesse local forem muito raras. Depois, há esse pessimismo em relação às pessoas que não me parece bom. Alguns jardins tornaram-se locais desagradáveis e até perigosos porque não se cuidou da componente humana. Esse lado desconfiado do "Não pisar", "Não comer"; "Não saltar" é a maior violência contra os nossos parques e jardins.

Anónimo disse...

Basta ver o que se passa na Europa Central e do Norte. Os parques são bem melhores do que os nossos porque as pessoas os frequentam sem inibições (o que faz com que cuidem mais deles, não o contrário). Não basta o "encantamento estético" do jardim do Carregal é preciso que ele ofereça razões para ser habitado.
Arbustos, árvores, claro. Mas também uma atitude menos desconfiada em relação às pessoas. E isto, parece, não é só um detalhe.

ManuelaDLRamos disse...

Mas segundo percebi a "desconfiança" não é de todo em relação às pessoas! É em relação aos cães ou melhor (ou pior, melhor dizendo) ao "cócó" destes!Às vezes surgem acesas discussões, baseadas em puros mal entendidos.Parece-me que é o que está a acontecer, aqui.

Anónimo disse...

Acho que a discussão está boa. O ponto central não é o "cócó" dos cães é saber se se deve pôr cercas à volta da relva ou não (eu acho que há mais vantagens do que desvantagens em não o fazer). Esse é que é o ponto essencial. Acho que os meus argumentos são discutíveis, eventualmente frágeis mas não me parece que resultem de um "mal-entendido".

ManuelaDLRamos disse...

;-) «- as zonas que ficam só com relva e sem qualquer sebe ou outra protecção (convite óbvio ao uso como sanitário pelos muitos cães da zona);»
A sebe aqui "pedida" ou achada necessária era para se impedir o uso sanitário por parte dos cães. Aqui neste caso.
Mas já agora estou a lembrar-me do caso da Sequóia gigante da Coodoaria que era usada como urinol pelos utentes desses bancos desconfortáveis a que se refere o Paulo. Uma sebe veio resolver o caso.
Pois tem razão há vantagens e desvantagens, depende dos casos. (não quero com isto encerrar a discussão ;-), but I really have to go...

Anónimo disse...

Olá. Há um pormenor que gostava de comentar, os relvados. Não conheço nenhum estudo concreto mas pela minha expriência, é necessário fornecer mais água para manter um relvado do que uma floresta. Se a água é um bem escasso, deve-se ponderar isso. Numa paisagem urbana em que se pondera também o CO2 absorvido e o O2 produzido, fica o relvado também a perder. Acho que a existir um relvado deve realmente servir para lazer das pessoas, estéticamente e tecnicamente penso que existem soluções melhores. A questão dos cães e asseio de um relvado, restos de comida e etc. é uma parte que tem com civismo, essa coisa que parece que leva gerações a mudar

Anónimo disse...

Cheguei atrasado! Não só pelo visual mas também pela questão da manutenção e gasto exagerado de água, estão muito na moda as chamadas ervas ornamentais -- este vai para o Sargaçal amanhã, mas fica aqui em primeira mão :) --, como substitutas da relva.
Quanto à delimitação dos relvados, acho que infelizmente ainda não há educação e civismo para os relvados è francesa, que afinal são à inglesa. -- JRF

ManuelaDLRamos disse...

Estive a reler a reportagem da abertura do Jardim no site da CÂmara, nomeadamente a lista de árvores
Agathis robusta -a única que se conhece na cidade;
- Sequóias-gigantes (Sequoiadendron giganteum);
- Sequóia-sempre-verde (Sequoia sempervirens);
- Pseudotsuga menziensii;
- Cunninghamia lanceolata;
- Magnólia de flor branca (transplantada para os viveiros municipais);
- Camélias (transplantadas para os viveiros municipais);
- Cedro-do-Líbano (Cedrus libani);
- Cedro-branco (Chamaecyparis lawsoniana);
- Bunia-Bunia (Araucaria bidwillii) - uma das três existentes na cidade


e parece-me que faltam umas tantas, algumas até de grande porte, nomeadamente os belíssimos plátanos.
Também pôr na lista de árvores que lá há as que já não há porque foram transplantadas ...qual a ideia? (P. deve ser para despoletar a tua criatividade literária;-)
E a Agathis robusta centenária no Jardim de Vilar d'Allen, em Campanhã? Ou essa freguesia já não faz parte da cidade?
Relativamente à Bidwilli, por favor confirmem se a que há na entrada da Maternidade é ou não uma. Se assim for o numero de três não está correcto (aliás a descoberta que fizeram no Verão foi cá no Porto? Já não me lembra).

Paulo Araújo disse...

E além do plátano há no Carregal um grande Acer pseudoplatanus, muitas casuarinas e um Podocarpus. Havemos de falar delas quando retomarmos a série sobre as árvores do jardim. Quanto à Araucaria bidwillii, existe no Porto pelo menos nos seguintes locais:

- FPUP (Casa Burmester), ao Campo Alegre;
- Maternidade Júlio Dinis (exemplar muito estragado);
- Cordoaria;
- Carregal;
- Villar d'Allen (pelo menos dois exemplares);
- Cemitério do Prado do Repouso;
- jardim da Baronesa do Seixo (à rua de Cedofeita).

Conclusão: são pelo menos oito.