20/12/2011

Diabelhas do mar e da serra

Plantago coronopus L.


Eis uma planta a quem a revolução filogenética liderada pelo Angiosperm Philogeny Group expandiu desmesuradamente o clã familiar. Antes, a família das plantagináceas era formada por três únicos géneros, Bougueria, Littorella e Plantago, os dois primeiros com uma a três espécies cada, o terceiro com um expressivo contigente de mais de duzentas espécies distribuídas por todos os continentes habitados. A verdade é que as tanchagens (nome português para os plantagos) não são modelos de formosura nem se fazem cobiçadas pela raridade. Não esperavam por certo ser postas à cabeça de uma família onde se incluíssem plantas tão apreciadas como as verónicas, as bocas-de-lobo, as linárias e as dedaleiras. A sua predilecção pelo anonimato é tão vincada que até hoje não tinham querido mostrar-se no Dias com Árvores, falha que hoje remediamos em dose dupla.

(Diga-se que o alargamento da família Plantaginaceae tem os seus detractores: a Flora Ibérica, por exemplo, não a reconhece. E, mesmo entre os que aceitam a nova circunscrição da família, há quem defenda que ela deve ter como líder uma planta mais vistosa, preferindo assim designá-la por Veronicaceae ou Antirrhinaceae.)

As tanchagens são ervas anuais ou perenes formadas por uma roseta de folhas basais e por características hastes florais rematadas por espigas. As flores, minúsculas e discretas, embora dotadas de todas as componentes prescritas pelos manuais de morfologia vegetal, abrem de baixo para cima e secam rapidamente; cada espiga não costuma ter mais que uma pequena franja florida. Depois há que dosear os ingredientes — folhas mais ou menos largas, número de hastes, comprimento das espigas — para os combinar em diferentes espécies. As que hoje aqui trazemos são pequenas e têm folhas estreitas; a primeira é conhecida nos Açores por diabelha; a segunda, não sendo muito diferente, merece o mesmo nome.

O Plantago coronopus, que forma bonitas rosetas perfeitamente circulares, é uma planta euro-asiática que gosta de dunas e de maresia mas é suficientemente versátil para quase fazer o pleno das províncias portuguesas; só a Beira Alta lhe escapa. Nos Açores, onde a fotografámos, é uma planta nativa que surge esporadicamente nas falésias negras de lava à beira-mar.

Plantago holosteum Scop.


A diabelha-da-serra (nome inventado agora mesmo para o Plantago holosteum) é uma planta muito mais desgrenhada, restrita às zonas montanhosas da Península Ibérica e da bacia mediterrânica, e em Portugal ao extremo norte (Beira Alta, Douro Litoral, Minho e Trás-os-Montes). Aprecia os ares frescos da serra e os solos ruins e pedregosos — e, menos bisonha do que as suas congéneres, consegue dar nas vistas pelo amarelo vivo das suas flores.

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