Conversas à beira ramo
Foto: pva 0504 - Viburnum odoratissimum - Palácio de Cristal - Porto
Há aromas que são sabores, como o da sopa ao lume, o do bolo de chocolate a sair do forno, o do caril a fumegar. Outros adivinham-se com som, como o do incenso balançado no turíbulo. Muitos têm até cor, como o da flor-de-laranjeira ou do jasmim, ou textura, como o das cascas de pinheiro ou o da roupa lavada. Apesar desta interligação dos sentidos, a linguagem dos cheiros - de texto mudo - é-nos inacessível se a fonte do aroma está ausente. E se reconhecemos uma flor pela mensagem perfumada que liberta, não deciframos todos os seus segredos: esses são dirigidos a outras flores da mesma espécie e a insectos colaboradores.
O perfume da flor da espécie do género Viburnum que aqui se reproduz, de nome vulgar viburno-perfumado, é pouco mais do que uma palavra, que soa por isso demasiado convicta: o epíteto da espécie, odoratissimum, obriga-nos a acreditar que estas inflorescências são odoríferas, levando-nos a manter o nariz colado aos estames até ser reconhecível um cheiro muito suave, talvez mistura de mel com anis.
À parte o aroma, há alguns exemplares desta espécie dignos de uma visita demorada. Os do Palácio de Cristal, de Serralves e do Jardim das Virtudes têm porte majestoso, ramadas pejadas de folhas grandes (7 a 12 cm de comprimento) com nervura central vincada, numa copa arredondada que nos oferece uma sombra prazenteira e agora se destaca pelo verde-alface da folhagem. Originária da Índia, China e Japão, tem crescimento lento mas é muito rústica e tolerante a condições adversas de solo e clima. O tronco é pardo com manchas claras e esparsas; as flores, muito atraentes para as abelhas, são brancas, pequeninas e agrupam-se em panículas nos extremos dos ramos.
Outro Viburnum aqui
3 comentários :
Desculpem o meu comentário não ter directamente a ver com o post em questão, mas incomodou-me imenso ver o que as obras da avenida da boavista junto ao parque da cidade fizeram às arvores que lá havia... Todas cortadas, caidas.... Um horror!! Haverá alguma coisa a fazer??
Andreia
Passei na Avenida da Boavista ontem à noite. Já há algum tempo que sabia o que lá se preparava, e por isso não fiquei surpreendido com o triste espectáculo. As tílias no passeio, segundo informação da Câmara (reiterada hoje no Público), estão a ser transplantadas, ao contrário dos choupos no corredor central, que foram simplesmente abatidos. Ora, toda esta intervenção, apesar de estar a cargo do Metro e ter como pretexto a futura e ainda incerta instalação da linha da Boavista, está a ser apressada por causa das Donas Elviras. Como pode nunca haver Metro na Avenida, é justo dizer que as árvores foram retiradas para deixar passar a corrida - o que, francamente, é indigno de uma cidade civilizada. Mas é preciso atribuir responsabilidades a quem as tem: o projecto do "dream team" para "requalificar" a Avenida propõe de facto a remoção das tílias e a sua substituição por plátanos. Trata-se de um gigantesco desperdício (eram árvores bonitas e saudáveis com cerca de vinte anos de idade) e, mesmo que algumas sobrevivam ao transplante e às mutilações, de um arboricídio gratuito e indesculpável.
Temos que arrajar para o Porto um slogan como já inventaram para Leça: «Leça é da Palmeira não é de Siza Vieira»
Enviar um comentário