19/05/2005

Vergonha (na estrada) nacional

.
(Esta é a doer! E é também a primeira entrada comum a um blog -Dias sem árvores, há muito na forja- que pretende denunciar "casos" destes de todos os pontos do país! Se quiser colaborar é só dizer.)
.
Num sábado do princípio de Abril tinha planeado juntar-me aos meus amigos da Campo Aberto num passeio guiado à serra do Marão. A minha falta de orientação fez com que saísse do IP 4 e entrasse na Estrada Nacional nº15 justamente pelo lado oposto ao que devia, ou seja "por baixo". Apesar de ser evidente que já não conseguiria chegar a tempo ao encontro marcado em plena serra, deliciei-me com a ideia de percorrer a antiga "estrada do Marão", aquela que todos fazíamos obrigatoriamente quando não havia a alternativa do chamado "Itinerário Pincipal": estava uma manhã de sol, o trânsito, por assim dizer, quase inexistente, e descobria a cada curva da estrada, recantos de paisagem verdadeiramente encantadores. Todavia o estado de encantamento foi de pouca dura: a partir de determinado momento do percurso entrei, por assim dizer, numa espécie de estado de choque!


Rolagem de plátanos na estrada nacional nº 15
O caso não era para menos e as imagens falam por si:a rolagem dos plátanos que ladeavam a estrada tinha sido a mais radical! E isto ao longo de largos quilómetros.
Numa das paragens que fiz, em Gondar, perguntei a um dos habitantes o que se passara, qual a razão para tal razia. Os plátanos tinham crescido demais, respondeu-me ele simplesmente, sem grande espanto ou emoção, e há quinze dias a mando da Câmara tinham sido cortados. Mas por quem? -perguntei eu- por madeireiros? Não sei se ele aproveitou ou não a deixa, mas o facto é que disse que sim, que tinha sido.


Rolagem de plátanos na estrada nacional nº 15
Como se vê na fotografia da direita, os últimos plátanos não foram decepados. Ignoro se por falta de tempo ou se por outra fantasia qualquer. Gostava aliás de saber, passado já mais de um mês sem ter lido nenhuma reacção ou comentário (nem sequer no site da SPA), o que terá acontecido às árvores. Tê-las-ão abatido completamente, num assomo de pudor, por recomendação dos profissionais da área, ou continuarão lá, símbolos vivos desta vergonha nacional?
Como é que é possível que actualmente ainda sejam permitidas tais rolagens e que não haja uma lei que puna, multe, impeça semelhante vandalismo? Francamente não se entende que ano após ano, década após década, continue a acontecer esta barbárie!

Como muitas vezes acontece o feitiço poderá recair sobre o feiticeiro...
Esta povoação, Gondar, por exemplo, encontra-se na Rota da Cerâmica, percurso turístico que atrai forasteiros, tal como a Pousada do Marão, alguns quilómetros mais acima, nesta estrada.
Que modo de valorizar os recursos e a beleza da região!
..

6 comentários :

Anónimo disse...

Basta acrescentar que a CM de Amarante é conivente com a existência, naquela que podia ser uma das estradas mais bonitas do distrito (de Amarante à Régua, junto à serra da Aboboreira),duma gigantesca sucata automóvel que se espalha pela encosta e pelas bermas da estrada. Além da agressão paisagistica e ambiental, é também um perigo a quem circula na estrada.
A propósito das árvores chamo a atenção para os cortes que o Instituto de Estradas costuma fazer, muito neste estilo, como por exemplo na circunvalação e nos acessos do IC1.
josé manuel

Pedro Veiga disse...

Infelizmente estes actos de vandalismo camarário aparecem um pouco por todo lado no nosso país. Há quem lhe chame "poda camarária". Os plátanos são frequentemente alvo destas tristes acções porque desenvolvem copas largas. O verdadeiro problema aqui é que os técnicos das câmaras municipais não sabem o que é uma árvore! Que tristeza!

Pedro Veiga

Anónimo disse...

De vez em quando vejo alguns casos desses. Quando surgir outro, vou registar e enviar para vocês. Quem sabe, se formos mtos a reclamar talvez este "assassinato" acabe. Bjinhos***

ManuelaDLRamos disse...

Formiguinha, a ideia é mesmo essa!Obrigada por comentarem!

José Santos disse...

Que vergonha!

Quero sair deste país e ir para Inglaterra onde as árvores são monumentos e não simplesmente "estorvos"...

Anónimo disse...

Um plátano que cresce demais, deve ser coisa de outro planeta, não conheço nenhum, para mim não existe. Ou então é coisa de Portugal e dos portugueses e desses zeros que andam à frente das câmaras municipais e os seus colaboradores -- os "avariadores", como já dizia o meu avô.
O que se vê nas fotografias é um crime. Infelizmente não é o único, o primeiro e muito menos será o último.
Numa outra nota, reparei no jornal, no anúncio ao condomínio fechado da "Quinta dos Ingleses". Pelos vistos um dos grandes argumentos de venda é a sua "envolvente verde". O crime compensa. Não haverá limites para a hipócrisia?
Às tantas em Gondar ainda vão transformar aquilo em atracção do estilo "venha ver os plátanos que crescem demais", esquecem-se é que por este país não faltam árvores que "crescem demais", deve ser do clima. -- JRF