21/10/2005

Os nomes das árvores - plátanos

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Pelas melhores e piores razões temos ultimamente falado de plátanos, a árvore de sombra por excelência na maior parte das cidades da Europa e da América do Norte, e a folhosa ornamental mais regularmente distribuída de norte a sul de Portugal. E hoje, na sequência do que já foi aqui escrito nos comentários pela nossa amiga Ver, tentamos deslindar a sua origem e a razão de ser dos seus nomes.

Segundo Plínio -que no início da nossa era escreveu não haver árvore que melhor protegesse do calor do sol - os plátanos teriam sido introduzidas em Itália cerca de 390 a.C. provenientes da Grécia, onde eram objecto de uma veneração especial. Ainda hoje, na ilha grega de Cós, se pode admirar o chamado plátano de Hipócrates, debaixo do qual, segundo reza a lenda, aquele que é considerado o pai da medicina ocidental atendia os seus pacientes. É aliás do nome grego da árvore, "platanos", que vem a designação científica do género, derivando o termo de "platys" que significa plano, largo em referência às folhas, segundo a maioria dos autores.

Conhecem-se cerca de 6 a 7 espécies de plátanos. Enquanto os da Grécia pertencem à espécie Platanus orientalis, originária das regiões temperadas da Ásia ocidental, o Platanus occidentalis, é nativo da zona atlântica dos Estados Unidos e foi introduzido em Inglaterra ainda antes de meados do séc. XVII, oriundo da Virgínia. No entanto as espécies eram bastante confundidas na literatura dos séc. XVIII e XIX até 1853, data em que Sir Joseph D. Hooker esclareceu as diferenças entres as duas espécies baseando-se nas características distintas dos frutos, o que até então tinha passado despercebido (cf. Hui-lin li).

No livro Árvores Monumentais de Portugal (Portucel, 1984), Ernesto Goes introduz a descrição de alguns dos nossos mais notáveis plátanos do seguinte modo: «A única espécie difundida no país é a Platanus hybrida Brot., sendo de origem desconhecida e considerada uma espécie resultante do cruzamento do Platanus orientalis com o Platanus occidentalis

Com efeito o botânico português Félix da Silva Avelar Brotero (1744-1828) descreveu a espécie na sua Flora Lusitanica (1804) a partir de espécies cultivadas em Portugal (cf. Hui-lin li) todavia a denominação sinónima, Platanus x acerifolia Willd. que precedeu a de Brotero num ano é mais divulgada. (O x indica a natureza híbrida da espécie, o epíteto acerifolia reconhece a semelhança das folhas com as dos áceres, e a abreviatura final refere a autoria da designação: o botânico alemão Carl Ludwig Willdenow (1765 -1812), com quem aliás Brotero se correspondeu.)

Outra designação científica sinónima, por sua vez preferida no país vizinho, é a de Platanus hispanica Mill. ex Muenchh. Recentemente, a opinião dos botânicos evoluíu no sentido de considerar esta espécie, não um híbrido, mas sim uma variedade do plátano oriental, e por isso haverá uma tendência para se adoptar o nome de Platanus orientalis var. acerifolia Aiton. ou seja mais uma designação a juntar à longa lista e a necessidade de se reverem afirmações e "verdades" anteriores!

Os nomes vulgares da árvore nos diferentes idiomas são também significativos: platano comune em italiano; platane commun e platane à feuilles d'érable (p. de folhas de ácer) em francês; plátano de sombra em espanhol; e em inglês European plane (plátano europeu) e London plane (plátano de Londres), designação que faz jus à sua abundância nesta cidade onde mais de metade das árvores ornamentais são plátanos.

Porque é que se chama sycamore nos estados da América do Norte fica para apróxima "investigação", mas se alguém souber...

7 comentários :

Anónimo disse...

You have to "seek more" to find out!

Paulo Araújo disse...

O termo sycamore já existia antes de ser aplicado aos plátanos: é o nome que os ingleses davam e dão ao Acer pseudoplatanus (bordo-comum, em português). Quando chegaram ao Novo Mundo e viram o plátano, tê-lo-ão achado suficientemente parecido com o bordo para lhe darem o mesmo nome. Portanto a pergunta a responder é outra: por que chamam os ingleses sycamore ao bordo?

Lusitano disse...

Este post fascinou-me, muito interessante mesmo!

Maria Carvalho disse...

Alguns dicionários indicam que o termo sycamore (em português sicómoro) vem do grego sykós (figueira) e moros (amoreira). Designa desde tempos bíblicos (e com frequência nas Escrituras) um tipo de figueira que era muito comum na Faixa de Gaza e região vizinha (diz-se que em Jericó sobram algumas monumentais), a Ficus sycomorus: esta figueira tem folhas parecidas com as da amoreira. Bem, o caminho parece portanto ser este: amoreira --> figueira ---> bordo --> plátano.

Anónimo disse...

A VOZ DO PLÁTANO

- Prende-me aqui a raiz!
Diz o plátano sacudindo as folhas
E solta-as como se fossem longos cabelos
Ou grades da sua prisão
Acabado o verão
Sem folhas, tronco nu, sem sombras
O plátano diz
---- Prende-me a raiz
E sente-se contente
Da sua força
Felizes os anjos que nada disseram
E voaram
Felizes os dias que voam
E nada dizem
Aprendem muito devagar
Os homens e os plátanos.

Lúcia Costa Melo Simas

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HOJAS DE PLÁTANO

Secas hojas de plátano
En el camino que vuelve a la infancia
Un hombre ya antiguo
Se asombra de haber vivido tantas vidas
Y de haber cambiado tan poco
Sin embargo sería incapaz
De identificarse
Ninguna de las imágenes que creyó recobrar
Conserva su proporción o su lugar
La inmovilidad de las cosas que duran
Sufren por ello de un desfase sutil
Demasiado leyó para haber nacido simplemente en su fecha
Demasiado viajó para haber nacido simplemente en su lugar
Es que acaso nació es que acaso pertenece a esta tierra
Por pulmón artificial tiene el futuro
En esta tarde otoñal en que se tiñen de rojo los jardines
De cada lado de la alameda ya obscura
Solamente se acuerda de sí mismo
Por el ruido de sus pasos
Y por la estrella que vela allá en lo alto
Sobre el umbral sobre el abismo

Pierre Emmanuel (1916-1984)
Traducción de Carlos Cámara y Miguel Ángel Frontán

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Lamentavelmente nao consegui encontrar o original do poema de Pierre Emmanuel. No original apenas este extracto de um outro poema, Hymne de la Liberté:

O mes frères dans les prisons vous êtes libres
Libres les yeux brûlés les membres enchaînés
Le visage troué les lèvres mutilées
Vous êtes ces arbres violents et torturés
Qui croissent plus puissants parce qu'on les émonde (1)
Et surtout le pays d'humaine destinée
Votre regard d'hommes vrais est sans limites
Votre silence est la paix terrible de l'éther.

Anónimo disse...

No Monastério de Piedra, Calatayud, província de Zaragoça, vi velhos plátanos com a folha mais pequena e um deles tinha (e terá) uma tabuleta em que se lia Platanus Iberica, coisa que me espantou a ignorância que julga saber bastante sobre árvores. No entanto não encontrei essa designação em lado nenhum, talvez seja o Hispanica.

Elivânia Damas disse...

Você tem algum material sobre essa árvore para me enviar. Eu amo essa folha, gostaria de descobrir essa atração que sinto por algo que nunca vi.<>