27/06/2006

O último carvalho


Quercus pyrenaica

Foi no primeiro domingo de Junho, sob um calor de sauna que desmentia a Primavera do calendário, que visitámos a reserva do Cambarinho. O coração da reserva é uma serpentina de rododendros salpicada de roxo que, ocultando o fio de água rumorejante de que se alimenta, se desenrola entre rochas até ao fundo de um vale; mas antes de lá chegarmos subimos um largo caminho pedregoso entre densos eucaliptais. O que se vê nesse quilómetro inicial do percurso é uma paisagem degradada, em que a vegetação rasteira se compõe exclusivamente de fetos que em breve se irão transmudar em combustível perigosamente inflamável. Quando se há-de fazer jus ao estatuto de reserva botânica desta mata, eliminando-se os eucaliptos que vão erodindo o solo e promovendo-se uma reflorestação séria? Mas, a uma dezena de metros do lado direito do nosso caminho, espreitava-nos uma relíquia daquilo que este lugar terá sido noutras eras: um possante carvalho-negral (Quercus pyrenaica) estendendo os seus longos braços retorcidos como quem tenta sacudir o assédio dos eucaliptos. É o último do seu clã num raio de muitas dezenas de metros: nas bordas do caminho plantaram-se alguns carvalhos-robles (Quercus robur) que medram com dificuldade na terra empobrecida, mas só reencontramos carvalhos-negrais mais acima, já perto dos rododendros. Terminado o espectáculo dos rododendros em flor, esta árvore justifica por si só uma visita ao Cambarinho; por isso a deixamos hoje sozinha em palco.

2 comentários :

bettips disse...

Fico tão sem fôlego, como se tivesse eu mesma subido ao monte! Mais uma lembrança para ir e "ver" o que interessa e subsiste.

Anónimo disse...

Luz espectacular!
Apetece mesmo ;-)