20/08/2007

O esplendor do desleixo


Luma apiculata - Casa Tait (Porto)

Esta pequena árvore da família das mirtáceas não parece ter designação em português; na sua terra natal (Chile e sudeste da Argentina) chamam-lhe arrayán, palavra que é também um dos nomes comuns da murta (Myrtus communis) em castelhano. A Luma apiculata divide-se geralmente em troncos múltiplos e não sobe acima dos cinco metros. É muito ornamental o seu ritidoma marmoreado em tons de branco e vermelho, efeito causado, tal como nos plátanos, pelo contínuo descascamento do tronco. Alguns livros garantem-nos que ela é frequente em jardins na costa atlântica temperada europeia, mas a verdade é que por cá não conhecemos senão o exemplar da foto. E não foi fácil destrinçar esta árvore do matagal que quase a sufoca: glicínias, áceres, fiteira, fetos, buxo, ligustros - todos se acotovelando numa ânsia de espaço vital que reproduz a genuína lei da selva. Mas isto não é selva: é património municipal; é a mais triste prova do valor (próximo de zero) que a Câmara do Porto atribui aos jardins à sua guarda.

Há quem confunda tamanho desleixo com «romantismo» - e é talvez a ingenuidade de quem assim pensa que permite à Câmara manter os jardins da Casa Tait neste estado vergonhoso. O «abandono» que o verdadeiro romantismo prezava era resultado de uma encenação cuidada; era um «abandono» que nada devia ao acaso e nunca poderia sobreviver à negligência. O que vemos hoje, na Casa Tait e também em boa parte do Palácio de Cristal, é espelho de uma cidade que desistiu de ter brio.

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